Pasta diz se basear em decreto que autoriza contratação, desde que para cargo superior ao ocupado pelo parente
Palco de uma briga política, o Ministério do Turismo emprega duas pessoas da mesma família, mãe e filha, em cargos de livre nomeação.
Segundo ministros do STF ouvidos pela Folha de S.Paulo, a situação configura nepotismo e vai contra o teor de decisão de 2008 que disciplina o tema.
Os ministros do STF ouvidos disseram avaliar que o decreto não pode contrariar a decisão antinepotismo do Supremo, proferida em 2008. Na ocasião, o tribunal abriu apenas uma exceção, para indicações puramente políticas, como o caso de governador que indica a mulher para ser secretária de Estado.
O ministro Gastão Vieira, do PMDB, nomeou Suzana Dieckmann para uma das secretarias mais importantes da pasta, a de Desenvolvimento do Turismo. Isso apesar de sua filha Marcela Dieckmann ser, desde 2007, coordenadora-geral de assuntos técnicos judiciais, cargo hierarquicamente inferior ao da mãe. Nenhuma delas é servidora pública de carreira.
O ministério alega que está amparado por decreto da Presidência que foi elaborado pela Controladoria-Geral da União no ano passado sobre “o que é ou não nepotismo no Executivo”.
O texto da CGU permite a contratação de parente de um servidor, desde que para um cargo hierarquicamente superior, como é o caso de Suzana e Marcela.
De acordo com o Portal da Transparência, a mãe ganha cerca de R$ 9.000; a filha, em torno de R$ 7.000.
O ministério afirmou ainda que Suzana Dieckmann “tem perfil estritamente técnico, amplo conhecimento de gestão pública e domínio dos temas do ministério”.
Marcela não quis se manifestar. Suzana não foi localizada.
Segundo a Folha de S. Paulo, “Suzana é ligada ao ex-ministro Walfrido Mares Guia, titular da pasta no governo do ex-presidente Lula”.
Gastão Vieira substituiu Pedro Novais no ministério há cerca de um mês, após suspeitas de irregularidade na pasta e da revelação de uso de verba pública para pagamento da governanta do ministro.