Exilados em Miami, venezuelanos anti-Chávez dizem que república morreu

por Daniel Buarque

Oposição segue exemplo de cubanos anti-Castro e busca asilo nos EUA.
ONG de venezuelanos em Miami diz que procura cresceu após referendo.

A promulgação da emenda constitucional aprovada no referendo de 15 de fevereiro na Venezuela, permitindo reeleição ilimitada do presidente Hugo Chávez, representou o fim da esperança de milhares de cidadãos do país que se sentem perseguidos. “A vitória do ‘Sim’ na votação trouxe a morte da república”, sentenciou, em entrevista ao G1, Elio Aponte, presidente de uma associação de exilados venezuelanos nos Estados Unidos.

Segundo ele, desde o mês passado, foi grande o número de pessoas que o procuraram, buscando informações sobre como tentar pedir asilo político e deixar o país governado há uma década por Chávez. “O governo persegue quem é contra o presidente. Opositores têm dificuldades de conseguir trabalho, e podem até chegar a sofrer ameaças físicas”, explicou. O próprio Aponte vive em Miami desde 2000, e trabalha ajudando compatriotas em situação semelhante a conseguir se refugiar nos EUA. Ele contou que precisou sair do seu país porque era constantemente ameaçado pelos chavistas.

A exemplo do que aconteceu ao longo dos últimos 50 anos com Cuba, que é considerado um modelo pelo chavismo, a cidade de Miami, na Flórida, tem se tornado o principal destino dos dissidentes políticos venezuelanos, que se tornam exilados. Segundo levantamentos da organização Orvex, presidida por Aponte, já há quase 200 mil venezuelanos no país, sendo cerca de 160 mil só na região de Miami. “Este número vem subindo muito”, disse, prevendo um aumento no número de exilados por conta da presença chavista no horizonte político da Venezuela.

Para Aponte, os altos índices de violência registrados no país escondem os atos da violência política. “Há uma política de extermínio da oposição. Quem não se enquadra fica melhor se sair do país.”

Democracia, disfarce e conspiração

A descrição da situação política da Venezuela pela ótica dos exilados é radical, e chega a soar como teoria da conspiração, como se Chávez tivesse controle total do país com mão de ferro. Segundo Aponte, o presidente teria apenas 20% de apoio da população, e vence todas as disputas eleitorais porque parte dos eleitores tem medo e porque controla o Conselho Nacional Eleitoral. “Há mais de 5 milhões de eleitores fantasmas no país”, disse, justificando os mais de 6 milhões de votos que a proposta chavista recebeu no último referendo.

A votação realizada em fevereiro, entretanto, teve intensa participação de observadores internacionais, e a maioria deles garantiu que o processo foi limpo e sem fraudes que pudessem mudar o resultado. O resultado foi aceito pelos partidos de oposição que fizeram campanha contra a emenda constitucional e Chávez foi elogiado até mesmo pelo governo norte-americano, que reconheceu a democracia do país.

“Chávez se disfarça de democrata”, atacou Aponte. Para ele, o governo Obama foi mal informado em relação ao que aconteceu na Venezuela, e a oposição não tem força política para combater Chávez. A vitória do ‘Sim’, segundo ele, foi fruto de manipulação política em um país em que as pessoas têm sua liberdade negada.

Aponte admite estar desesperançoso. Depois de quase uma década de exílio, ele diz não ver perspectivas de um dia voltar para a Venezuela, e crítica que se esteja seguindo o modelo que diz ser inspirado em Fidel Castro e Cuba. “Chávez passou por cima de todas as leis para ficar no poder, e deve conseguir se manter nele por muito tempo.”

Emenda e reeleição

O presidente promulgou no mês passado a emenda constitucional aprovada no referendo, que permite a reeleição ilimitada na Venezuela. “Estamos escrevendo a nova história”, disse Chávez ao firmar o documento em um ato oficial na praça Pérez Bonalde, no bairro operário de Catia, oeste de Caracas. “Promulgo esta emenda com todo meu coração e meu compromisso com o povo, e juro ao povo que não lhe decepcionarei. Viva o povo!” – exclamou Chávez para centenas de partidários reunidos na praça.

Ele, que já havia declarado que voltaria a concorrer à Presidência nas eleições de 2012, confirmou que pretende ficar no poder por pelo menos outra década. “Estou pronto para comandar a revolução de 2009 até 2019, pelo menos, se Deus quiser e o povo decidir assim”.

“Esta é uma emenda histórica, porque é a primeira vez que uma Constituição na Venezuela é emendada pela vontade do povo. Isto é a boa democracia, a democracia verdadeira”.

A primeira emenda à Constituição de 1999, que envolve cinco artigos e permite a reeleição sem limite de todos os cargos obtidos em eleição popular, foi aprovada em referendo por 54,86% dos votos (6,3 milhões). O “Não” recebeu 45,13%, o que equivale a mais de 5,1 milhões de votos. Até o mês passado, a Constituição da Venezuela permitia apenas uma reeleição.

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