Esposa de desembargador é acusada de negociar sentenças no TJ-MT

A esposa do desembargador José Tadeu Cury, a advogada Célia Cury, está sendo acusada pelo Ministério Público Federal como a grande articuladora do esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Ela é apontada como um dos elos centrais do esquema que teria se formado para oferecer decisões favoráveis dadas por membros da magistratura mato-grossense mediante pagamento. Dos 14 casos de negociata relatados na denúncia do subprocurador-geral da República Eugênio José de Aragão, Célia Cury está envolvida em nove.

No total, 37 pessoas foram denunciadas, entre desembargadores, juízes, advogados, parentes de magistrados, servidores do Judiciário e políticos. O desembargador Tadeu Cury não está envolvido no caso. Contudo, pesa contra Cury, o esposo, a denuncia de envolvimento em um suposto esquema de desvio de recursos do Judiciário Estadual para cobrir um “rombo” financeiro em uma cooperativa de crédito mantido pela Maçonaria, da qual o seu colega, desembargador José Ferreira Leite, era presidente. Cury chegou a ser aposentado compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça.

Assim como Célia Cury, a dona-de-casa Ivone Reis está envolvida na maioria dos casos. Ela é amiga pessoal de Célia e realiza encontros, inclusive, em sua casa. “Célia Cury e Ivone Reis vendiam constantemente a ideia de que possuíam influência perante o TJ”, diz a denúncia. Como prova dos crimes, a denúncia traz extrato de saldo bancário, que confirma depoimento prestado por Ivone à Polícia Federal, no qual relata valores de uma das negociações.

Conforme as investigações, o subprocurador-geral pontua que Célia tem cuidado exacerbado em conversas ao telefone. Tenta não mencionar nomes e números, “lançando mão de códigos de substituição simples como forma de disfarçar as conversas suspeitas”. Um dos exemplos de código citado na denúncia é uso da palavra “brilhantes”, sendo que a letra B significa o número 1, R significa 2 e assim por diante, até chegar no S, que significa zero. Assim, ao passar um número ao telefone, ela dizia somente letras, de forma a despistar no caso de estar sendo grampeada.

O escândalo veio à tona em maio do ano passado, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Asafe. Foram cumpridos 30 mandados de busca e apreensão e nove pessoas foram presas temporariamente. Entre os nomes, o de Célia Cury. O inquérito tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em razão do foro privilegiado de alguns dos envolvidos. A ministra relatora- do caso é Nancy Andrighi. Ela fará um relatório aceitando ou não a denúncia, o que depois será apreciado pelo Pleno do STJ.

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