Tensão entre defesa e acusação marca o primeiro dia do julgamento de Lindemberg

Bate-boca, troca de farpas e provocações entre a acusação e a defesa marcaram o primeiro dia de julgamento de Lindemberg Alves Fernandes, na segunda-feira (13/2). As partes diversas vezes se interroperam e fizeram questão de registrar divergências na ata de julgamento. Lindemberg, que manteve a ex-namorada Eloá Pimentel refém por cerca de cem horas, é acusado dos crimes de homicídio, tentativas de homicídio, cárcere privado, disparos em local habitado e porte ilegal de arma de fogo.

O início dos trabalhos estava previsto para as 9h, mas o impasse entre a acusação e a defesa do réu causou uma hora e meia de atraso. A advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, pediu a substituição de duas testemunhas. O Ministério Público, representado pela promotora Daniela Hashimoto, se posicionou contrário ao requerimento da defesa, mas o pedido foi aceito pela juíza que preside o Júri, Milena Dias.

Como Assad pretendia, a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, e o irmão mais novo da vítima, Everton Douglas irão falar no lugar de testemunhas que faltaram. Ao final dos depoimentos e debates, o conselho de sentença vai decidir se Lindemberg é culpado pelos crimes imputados a ele. O júri é composto por seis homens e uma mulher, que nunca participou de um Júri.

Tanto a acusação quanto a defesa apresentaram vídeos jornalísticos com a cobertura jornalística do caso. Após uma pausa de uma hora e meia para almoço, a defesa voltou a exibir matérias em vídeo por mais uma hora. A advogada conversou constantemente com Lindemberg. Em seguida, o réu foi retirado do plenário a pedido das testemunhas que iriam depor.

Depoimentos das vítimas

A primeira a falar foi a amiga de Eloá, Nayara Rodrigues da Silva, que esteve boa parte do tempo no apartamento. Ao responder às perguntas da juíza, Nayara contou que havia conhecido Eloá na escola em 2008, ano do fato. Na época, Lindemberg ainda era namorado de Eloá. Ela afirmou que nunca ouviu a amiga comentar sobre qualquer atitude agressiva de Lindemberg.

Segundo Nayara, o namoro dos dois foi cheio de idas e vindas e o comportamento de Lindemberg mudou após Eloá dizer que não voltaria mais. Ela relatou que em um sábado Lindemberg teria agredido a amiga em um ponto de ônibus. “Ele [Lindemberg] ia na porta da escola de moto para esperar ela sair”, contou.

No dia 13 de outubro de 2008, Nayara narrou que quase no final da aula decidiram fazer um trabalho em grupo, e Eloá sugeriu que fosse na casa dela. Ela disse que Lindemberg chegou armado e de maneira agressiva no apartamento. Levou as duas para o quarto onde estavam os outros dois garotos, Vitor Lopes de Campos e Iago Vilela de Oliveira.

Seu depoimento foi o mais longo do dia e ela respondeu a questionamentos da promotora Daniela Hashimoto, dos advogados assistentes de acusação Ademar Gomes e José Beraldo, e da advogada do réu. O momento foi de tensão, já que os advogados das partes discutiram. A acusação sustentou que as perguntas da advogada soavam como “tortura” para Nayara, que se irritou e passou a dar respostas “atravessadas” para Ana Lúcia.

A advogada de Lindemberg rebateu a crítica e afirmou que o objetivo era apresentar a verdade dos fatos para os jurados. Ela manteve perguntas que demonstravam respostas desencontradas de Nayara. Ana Lúcia indagou à Nayara como Lindemberg teria conseguido amarrar Eloá com a arma nas mãos. Ela respondeu de forma ironica “pra você ver, né?”. Nessa hora, burburinhos entre as pessoas que assistiam ao Júri soaram mais alto.

Os depoimentos de Victor Lopes Campos e Iago Vilera de Oliveira, amigos que estavam no apartamento de Eloá quando Lindemberg o invadiu, coincidiram em muitos pontos. Os dois contaram que o acusado mantinha a arma sempre em punho e observaram sua constante mudança de humor, reiterando o relato de Nayara que os antecedeu.

Assim como a amiga de Eloá que fez terapia, ambos declararam que o episódio lhes deixou sequelas. Vitor precisou fazer tratamento psicológico, já Iago adquiriu fobia de lugares fechados dos quais não pode sair quando quer e disse ainda que largou a escola no ano seguinte.

Iago, na época namorado de Nayara, e Victor contam a mesma versão sobre a ida à casa da vítima. Combinaram de fazer um trabalho da escola com as duas garotas e caminharam juntos até o terminal de ônibus. Foi numa pastelaria em frente a esse terminal que Nayara afirmou ter visto Lindemberg conversando com Douglas, irmão de Eloá. Iago, porém, disse lembrar-se apenas de Douglas e, sem certeza, de uma moto que poderia ser a do réu.

A partir do depoimento de Iago, Lindemberg voltou ao plenário. Durante os depoimentos do amigo de Eloá e do sargento Atos Valeriano ele aparentava estar calmo. Valeriano relatou que foi o primeiro policial a chegar no local e que logo assumiu as negociações com Lindemberg pelo celular do pai de Eloá.

Valeriano também figura como vítima no processo. Ele conta que durante uma ligação Lindemberg teria solicitado vê-lo. Ao ao entrar no campo de visão do réu, ele teria disparado contra o policial. O sargento também afirmou que durante as negociações Lindemberg alternou momentos de agressividade e tranquilidade, e o classificou como uma pessoa “desequlibrada”.

O final do depoimento do sargento também foi marcado por tensão entre defesa e acusação. A pergunta do assistente de acusação, José Beraldo, desagradou a advogada do réu, Ana Lúcia Assad, que interviu e afirmou que a pergunta era pouco objetiva. O advogado se irritou e falou para ela “deixar ele perguntar e ficar quieta”. Ele questionava o policial sobre um possível desfecho da situação caso ele tivesse continuado nas negociações.

Assad rebateu dizendo que os dois tinham a mesma importância no julgamento. A juíza afirmou que o sargento não era obrigado a responder e ele não respondeu.

Intimidação

No intervalo entre os testemunhos, a advogada de Lindemberg concedeu entrevista à imprensa. Incomodada com as manifestações de hostilidade do público que assistia ao julgamento, ela ressaltou que “os defensores do acusado não podem ser julgados” e que “não pode haver intimidação”.

Assim como o defensor do casal Nardoni, ela foi hostilizada na parta do Fórum por pessoas que estavam na fila aguardando a senha para assistir ao julgamento. Ana Lúcia Assad lembrou que se não fosse ela defendendo Lindemberg, outro advogado faria este papel, ao qual todos têm direito.

Previsão

Nesta terça-feira (14/2), serão ouvidas outras testemunhas de acusação e defesa, entre eles jornalistas. Em seguida, será a vez de Lindemberg apresentar sua versão dos fatos. Só depois começa o debate entre defesa e acusação. Cada um tem uma hora e meia para falar, com possibilidade de réplica e tréplica. Feito isso, o conselho se reúne para decidir o destino do réu. Se for condenado, a juíza estipula o tempo da pena.

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