As excelentes perspectivas da Tecnologia da Informação

Nehemias Gueiros Jr*

A despeito da desaceleração da economia mundial no ano 2001 e dos ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos, são excelentes as perspectivas de futuro da Tecnologia da Informação (IT) nos próximos anos. Agora que a Nova Economia está praticamente sepultada vale a pena considerar que sua essência continua muito bem obrigado. As apostas de que a rede Internet seria um eldorado de prosperidade continua e o fim do business model vigente no mundo eram apenas firula.

Mas se encararmos a chamada Economia Virtual com mais realismo, como uma promessa de substanciais ganhos de produtividade através da evolução tecnológica, as boas perspectivas estão apenas começando. O boom tecnológico nos anos finais do século XX pode ser dividido em três fases distintas, cada uma com resultado diferente. A primeira está ligada a desregulamentação das telecomunicações em 1996, com efeito permanente na economia mundial.

A segunda ficou por conta do Y2K, também conhecido como “bug do milênio”, que no período de 1998-1999 fomentou considerável aumento de consumo e a terceira fase está diretamente ligada à rede de computadores Internet, no que ficou conhecido como a “febre pontocom” (Internet bubble) e que deixou um legado muito importante mas pouco comentado até agora: uma geração inteira de profissionais da Web, cuja capacidade e talento serão agora determinantes para desdobrar os ganhos de produtividade da Internet além da indústria high tech.

É fundamental entender a relação entre a produtividade de uma nova tecnologia e sua capacidade de gerar lucros. Estradas de ferro, automóveis e o rádio certamente contribuíram para a produtividade da economia quando foram desenvolvidos, tal e qual a TI, mas numa economia capitalista a competitividade se traduz na redução dos níveis de lucro. Ganhos de produtividade resultam em maior qualidade de vida a menores preços. Alguns investidores – principalmente os pioneiros – se dão bem melhor do que os tardios, que inevitavelmente tendem a sentir os efeitos da ressaca da festa.

Existem razões que explicam a ressaca da manhã seguinte da festa da febre pontocom. No boom da TI as experiências e tentativas não foram com rodas, engrenagens e parafusos, mas com programas e códigos de computador e protocolos de hipertexto. Ao premir de um botão informações podiam ser enviadas e recebidas em nível global à velocidade da luz de uma maneira jamais antes viabilizada na sociedade. A competição se tornou absurda, fazendo despencar os preços e conseqüentemente os lucros.

Quem realmente saiu ganhando nessa febre fomos nós, usuários, para quem a Internet se tornou uma ferramenta barata e mundial de comunicação, pesquisa e negócios. A revolução parou por aí. Toda a conversa sobre a “Nova Economia” não passou de hype, de onda prematura. A Internet é apenas uma nova ferramenta para os negócios pré-existentes da humanidade. Ponto final. É muito mais um novo segmento do que uma nova economia, embora de significado e importância inescondíveis.

De certa maneira, a TI foi bem sucedida até demais, pois a lei de Moore, que previu que a capacidade dos microchips dobra a cada 18 meses ainda será válida pelo menos por mais uma década. O armazenamento em discos rígidos vem dobrando a cada 12 meses e continuará assim também por pelo mais cinco anos. De acordo com estudo realizado por Peter Lyman, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, o mundo gera cerca de 250 megabytes de informação por pessoa, por ano. Isto equivale a 250 livros lidos por pessoa, todo ano. É claro que grande parte dessa informação é burocrática, se refere a transações comerciais, contas, previsões meteorológicas e similares, mas há informações importantes nesse conteúdo.

A tarefa mais importante consiste justamente em separar o que tem valor do que é descartável e fazer essas informações chegarem rapidamente aos interessados. Henry Ford, que deu ao mundo as linhas de montagem, fiscalizava ele próprio o processo fabril junto com seus operários, consolidando os notáveis ganhos em produtividade hoje associados à produção em massa. É por isso que os atentados de 11 de setembro e a desaceleração da economia americana não irão afetar esse processo de expansão da produtividade via Internet.

Na verdade, são os tempos sombrios, de vacas magras na economia que encorajam a busca por meios mais baratos e práticos de se conseguir realizar as coisas, no que pode ser definido como a essência do refinamento da produtividade. Um dos resultados mais imediatos da quebradeira pontocom é a liberação de um considerável contingente de profissionais experientes em TI, agora livres para expandirem seus horizontes além das colinas do Vale do Silício em São Francisco.

É o talento em marcha, a caminho de onde é mais requisitado. Da mesma maneira que os motores elétricos se tornaram parte de quase todas as máquinas na primeira metade do século XX e circuitos integrados dominaram totalmente a segunda metade, a TI será parte fundamental de toda e qualquer indústria ou negócio, grandes ou pequenos. É brilhante o futuro de médio prazo para a TI.

Os ganhos em produtividade resultantes dessa nova tecnologia não deverão permanecer isolados em empresas americanas, mas sim se multiplicar inevitavelmente pelo mundo afora na sociedade conectada. É certo que não reveremos tão cedo os valores absurdos da bolha high tech dos anos 90 na bolsa de Wall Street mas a tecnologia da informação será certamente um dos fatores que mais contribuirão para o crescimento e a integração econômica do mundo no limiar do Terceiro Milênio.

Nehemias Gueiros Jr é advogado especializado em Direito Autoral e professor da Fundação Getúlio Vargas

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