'Fux foi vítima da guerra civil existente nas cidades brasileiras.'

Paulo Castelo Branco*

O ministro Luiz Fux, do Superior Tribunal de Justiça, é um daqueles cariocas de bem com a vida. Professor universitário, recebe de seus alunos o respeito e admiração a cada formatura. Faixa-preta em artes marciais, sempre usou a técnica para aprimorar os movimentos do corpo e da alma. Gosta de música, da família, e não deixa de usufruir das belezas da Cidade Maravilhosa. Sai às ruas e se diverte com os filhos nos finais de semana, nos quais pode se afastar de Brasília. O ministro Fux é um boa praça; como dizíamos nos tempos de juventude.

Fux fez carreira brilhante na magistratura: promotor de Justiça, juiz de Direito em várias comarcas, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, chegou ao Superior Tribunal de Justiça em 2001 e se firmou como profundo conhecedor do Direito e juiz com sensibilidade social.

No último final de semana, Fux foi assaltado na porta do prédio, no qual reside com sua família – esposa e dois filhos. Segundo a polícia, o magistrado chegava em casa e foi rendido por alguns jovens. Foram levados para o apartamento, e lá os bandidos iniciaram a sessão de tortura a que são submetidos os cidadãos indefesos de qualquer parte deste nosso Brasil sem esperança e cheio de medo. Os quase-meninos, filhos da classe média, brutais e frios, começaram a estapear os filhos do ministro, usando a tática dos torturadores profissionais; maltratam os que nos são queridos para obterem informações sobre bens que imaginam estejam escondidos em locais secretos. O que pode ter um magistrado?

Algumas jóias, obras de artes e muitos livros. E para que lhes servem livros se o que desejam é só ouro e dólares? As agressões aumentam, apesar de tudo ter sido entregue. Não há mais nada; informou a vítima aos seus algozes. Na mente do mestre em artes marciais, devem ter passado os muitos ensinamentos a respeito de como agir em situações de risco.

O sentimento de pai falou mais alto, e a indignação se apossou do cérebro. Ficou tudo escuro e a reação não tardou. Pulou no mais violento e defendeu a cria. Era bicho contra bicho. Lutou até cair atingido por marretas e coronhadas. O homem ficou no chão, e os animais fugiram assustados com a luta de quem se acostumou a fazer Justiça com as leis e não com as próprias mãos.

O ministro Luiz Fux é mais uma vítima na guerra civil que transformou todas as cidades brasileiras, sem exceção. Lembro-me que há alguns anos, na Península dos Ministros, no Lago Sul, um almirante – o segundo militar na hierarquia do Ministério da Marinha -, foi brutalmente espancado a golpes de marreta por um marginal. O assaltante queria o rádio que o almirante ouvia em sua caminhada matinal.

A vítima entregou o objeto e, mesmo assim, foi agredido; reagiu atracando-se com o bandido que, assustado, fugiu. Socorrido, o militar foi repreendido por amigos e policiais de que não deveria ter reagido, pois poderia ter sido morto; ao que ele respondeu: – Se ninguém reagir, daqui a pouco tempo estaremos todos mortos, nas mãos desses criminosos.

Fux e o almirante estão entre as autoridades que já fazem como os cidadãos comuns que não são protegidos pela polícia ostensiva nas ruas e reagem contra os criminosos. Às vezes morrem, outras vezes ficam feridos; em alguns casos, matam e são processados; em outros raros, conseguem defender a sua família e a si próprios sem danos maiores. Mas, como na guerra, estão prontos a lutar pela vida. Este é o dilema; estamos na disputa pelo espaço ínfimo entre o bem e o mal. Se não lutarmos, seremos intimidados e humilhados por bandidos sem limites; seremos mortos-vivos.

Breve, chegará o dia em que cada cidadão será obrigado a usar as mesmas armas dos marginais e, aí sim, a tragédia será maior. Despreparados como os bandidos, estaremos nos matando mutuamente, resultado da ineficiência dos políticos que nos governam.

Paulo Castelo Branco é advogado e ex-secretário de Segurança Pública do DF

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