STF determina que município de São Paulo aplique divulgação de gratuidade em serviços funerários

Ministro Flávio Dino também ordenou reforçar a fiscalização das concessionárias, com reajuste de multas para práticas irregulares.


O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o Município de São Paulo (SP) amplie o acesso da população aos preços dos serviços funerários e aos critérios para pedir a gratuidade. As informações deverão ser publicadas no site da prefeitura e fixadas em local visível na entrada de todos os cemitérios da cidade.

Dino determinou que, nos pontos de atendimento das empresas que operam o setor, sejam divulgadas cartilhas padronizadas com informações claras sobre os serviços, pacotes e direitos dos usuários. Também foi determinado o reforço da fiscalização pública das concessionárias, com reajuste de multas em caso de infrações ou práticas irregulares.

A decisão do ministro foi dada na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 1196 e vai ser analisada pelo Plenário em sessão virtual entre 21 e 28 de março. As disposições complementam uma determinação anterior, de novembro, para a aplicação de um teto para serviços funerários tendo como referência os valores praticados antes da privatização do setor, atualizados pela inflação.

Na nova decisão, o ministro reconheceu que os serviços funerários e de cemitérios e cremação paulistanos estão em “parcial desconformidade” com os preceitos fundamentais da Constituição. Ele se baseou em nota técnica do Núcleo de Processos Estruturais Complexos (Nupec) do STF. Segundo o ministro, esses serviços são essenciais e devem ser acessíveis a todos. A decisão ainda determina a divulgação de um canal de denúncias 24 horas para a população comunicar irregularidades.

Entenda
Na ação, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), questiona duas leis municipais que concederam à iniciativa privada a exploração de cemitérios e crematórios públicos e serviços funerários.

Em 24 de novembro de 2024, Dino determinou que o município estabelecesse os valores praticados imediatamente antes da privatização, atualizados pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Em dezembro, foi feita uma audiência de conciliação para discutir o assunto e, no mês seguinte, o ministro solicitou ao Nupec uma nota técnica para analisar a variação dos preços antes e depois da privatização dos serviços.

Veja a decisão.
Processo: ADPF nº 1.196/SP

STF: Tribunais de contas podem julgar prefeitos que ordenam despesas

Supremo invalidou decisões judiciais que haviam derrubado punição das cortes de contas a gestores municipais.


O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, que os tribunais de contas têm competência para julgar as contas de prefeitos que acumulem a função de “ordenadores de despesa”. Para a Corte, uma vez constatadas irregularidades, é possível também condenar os gestores municipais ao pagamento de multa e à devolução do dinheiro aos cofres públicos.

A decisão foi tomada na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 982, movido pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) e julgada na sessão virtual encerrada em 21 de fevereiro. O STF também decidiu anular as decisões judiciais não definitivas (em que ainda cabem recursos) que tenham invalidado julgamentos dos Tribunais de Contas com punições a prefeitos, desde que a pena imposta não tenha caráter eleitoral (nesse caso, a competência é do Legislativo local).

Risco de esvaziamento
Conforme a legislação, a função de ordenador de despesa é exercida por qualquer autoridade pública com poder para emitir empenhos ou autorizar pagamentos.

Para o relator, ministro Flávio Dino, a Constituição Federal reconhece os tribunais de contas como órgãos autônomos e com autoridade técnica para fazer o controle externo do poder público. Segundo ele, tirar sua competência para punir prefeitos em caso de má gestão de recursos levaria a um “inevitável esvaziamento” do controle externo sobre entes políticos cujos chefes do Poder Executivo assumam pessoalmente a função de ordenar despesas.

Em seu voto, Dino fez uma diferenciação desses casos com os julgamentos de contas de governo prestadas anualmente por prefeitos e que são relacionadas com a execução orçamentária total. Nesta situação, cabe ao Poder Legislativo fazer a avaliação e o julgamento político a partir de um parecer do tribunal de contas. Eventuais sanções podem ter consequências eleitorais, com o reconhecimento da inelegibilidade.

Nos casos em que exerce a função de ordenador de despesas, o prefeito deve prestar contas relacionadas com o gerenciamento patrimonial do município (prestação de contas de gestão), e sua regularidade será julgada definitivamente pelo tribunal de contas.

Tese
A tese de repercussão geral fixada foi a seguinte:

“(I) Prefeitos que ordenam despesas têm o dever de prestar contas, seja por atuarem como responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração, seja na eventualidade de darem causa a perda, extravio ou outra irregularidade que resulte em prejuízo ao erário;

(II) Compete aos Tribunais de Contas, nos termos do art. 71, II, da Constituição Federal de 1988, o julgamento das contas de Prefeitos que atuem na qualidade de ordenadores de despesas;

(III) A competência dos Tribunais de Contas, quando atestada a irregularidade de contas de gestão prestadas por Prefeitos ordenadores de despesa, se restringe à imputação de débito e à aplicação de sanções fora da esfera eleitoral, independentemente de ratificação pelas Câmaras Municipais, preservada a competência exclusiva destas para os fins do art. 1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar nº 64/1990”.

STJ: Seguradora não pode assumir prerrogativas processuais do consumidor em ação regressiva

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob o rito dos recursos repetitivos (Tema 1.282), fixou a tese segundo a qual “o pagamento de indenização por sinistro não gera para a seguradora a sub-rogação de prerrogativas processuais dos consumidores, em especial quanto à competência na ação regressiva”.

Com a definição da tese, podem voltar a tramitar os recursos especiais e agravos em recurso especial que estavam suspensos à espera da fixação do precedente qualificado. O entendimento deverá ser observado pelos tribunais de todo o país na análise de casos semelhantes.

A ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso repetitivo, enfatizou que a seguradora não pode se sub-rogar nas prerrogativas processuais, uma vez que tais benefícios são exclusivos da condição personalíssima do consumidor. “Muito embora a sub-rogação seja a regra nos contratos de seguro, existem limitações acerca de direitos, ações, privilégios e garantias em que se sub-roga o novo credor”, afirmou.

Sub-rogação se restringe à transferência de direitos de natureza material
A relatora destacou que, ao longo dos anos, a jurisprudência do STJ se consolidou no sentido de que a sub-rogação se restringe à transferência de direitos de natureza material, não alcançando prerrogativas processuais vinculadas a condições personalíssimas do credor.

Nancy Andrighi apontou que, como consequência desse entendimento, o novo credor pode exercer os direitos materiais que caberiam ao credor original, tais como garantias reais, garantias fidejussórias ou pessoais, juros e poderes formativos inerentes ao crédito.

No entanto, a relatora ponderou que não é possível a sub-rogação da seguradora em normas de natureza exclusivamente processual que decorrem de um benefício conferido pela legislação especial ao indivíduo considerado vulnerável nas relações jurídicas, conforme previsto nos artigos 6º, inciso VIII, e 101, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Seguradora não está em posição de vulnerabilidade na relação de consumo
A ministra enfatizou que o artigo 101, inciso I, do CDC, que assegura ao consumidor o direito de escolher o foro de seu domicílio, não pode ser estendido à seguradora, pois esta não ocupa posição de vulnerabilidade na relação de consumo. A relatora destacou que essa regra processual tem o propósito de equilibrar as relações de consumo, garantindo ao consumidor um acesso mais fácil à Justiça.

“Busca-se, mediante tal benefício legislativo, privilegiar o acesso à Justiça do indivíduo que se encontra em situação de desequilíbrio. Trata-se, portanto, de norma processual que decorre de condição pessoal (consumidor) e que deve ser examinada em cada relação jurídica, não podendo ser objeto de sub-rogação, nos termos do artigo 379 do Código Civil”, disse.

Além disso, Nancy Andrighi afastou a possibilidade de inversão do ônus da prova em favor da seguradora, destacando que esse benefício, previsto no artigo 6º, inciso VIII, do CDC, é exclusivo do consumidor e não pode ser objeto de sub-rogação, pois decorre diretamente de sua condição na relação de consumo. A ministra destacou que eventual inversão do ônus da prova poderá ocorrer com fundamento nas normas gerais do Código de Processo Civil (CPC) e na aplicação da teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, quando cabível.

“Assim, conclui-se que a sub-rogação transfere ao novo credor direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à obrigação de direito material, contra o devedor principal e os fiadores, não sendo admissível a sub-rogação nos direitos processuais decorrentes de condição personalíssima de consumidor, como o é a faculdade de promover a ação no foro de seu domicílio (artigo 101, inciso I, do CDC) e a possibilidade de inversão do ônus da prova com fundamento no artigo 6º, inciso VIII do CDC”, concluiu.

Veja o acórdão.
Processo: REsp 2092308

TRF4: INSS terá que indenizar por acesso de empresa de consultoria a pedido de auxílio-doença

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) deverá pagar R$ 5 mil de indenização por danos morais a um morador de Rio do Sul, que teve dados pessoais vazados e obtidos por suposta empresa de consultoria previdenciária. A 1ª Vara da Justiça Federal em Blumenau/SC considerou que o vazamento ocorreu a partir do Sistema de Administração de Benefícios por Incapacidade (SABI), sob responsabilidade do INSS.

“O simples acesso de terceiros a dados do autor em sistema do INSS configura dano moral, pois houve compartilhamento de dados sem o consentimento do autor, [que se sentiu] ‘exposto e constrangido por ter a privacidade de sua saúde e situação assistencial vazadas ilegalmente na internet, sem saber quem mais já tem conhecimento dessas informações e de que forma poderão ser utilizadas’”, afirmou a juíza Rosimar Terezinha Kolm, em sentença proferida ontem.

O autor da ação relatou à Justiça que, em maio do ano passado, recebeu mensagem da suposta empresa de consultoria para tratar do indeferimento de um pedido de auxílio-doença. Segundo ele, que apresentou registros em cartório dos textos e áudios, o contato aconteceu, inclusive, antes da comunicação oficial da negativa do INSS.

“Há expressa comprovação de que a informação sobre o indeferimento do pedido de auxílio-doença se deu pelo acesso de terceiros (empresa de consultoria previdenciária) ao sistema SABI”. O INSS alegou que teria ocorrido apenas “assédio invasivo do telemarketing de um mercado financeiro voraz e incontrolável”, argumento que não foi aceito pela juíza. “[Trata-se] de acesso de dados do autor (e anteriormente à comunicação de decisão de indeferimento do benefício) no sistema do INSS – SABI por terceiros”, concluiu. Cabe recurso.

 

TRF6 mantém sentença em favor de vítima da Síndrome da Talidomida

A Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6), por unanimidade, negou provimento à apelação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), contra sentença que homologou cálculos apresentados por segurada deficiente, em pedido de indenização por dano moral da referida segurada, que é portadora de “Síndrome da Talidomida”. A sentença determina a incidência de correção monetária a partir do requerimento administrativo e dos juros de mora a partir da data da citação. O julgamento ocorreu no dia 30 de outubro de 2024.

O processo, sob a responsabilidade do gabinete da desembargadora federal Luciana Pinheiro Costa, teve como relatora da apelação do INSS a juíza federal convocada Carmem Elizângela Dias Moreira de Resende.

O que é a “Síndrome da Talidomida”

Os portadores de deficiência física em decorrência da Síndrome da Talidomida também são chamados por juristas e médicos de “vítimas da talidomida”.

Ao contrário do que se acredita, a talidomida não é uma doença, mas uma medicação. Desenvolvida na Alemanha em 1954, é destinada a controlar a ansiedade, tensão e enjoo, passando a ser recomendada às gestantes com relativo sucesso terapêutico em 146 países (inclusive o Brasil, a partir de 1958).

Contudo, em 1960, foi descoberto os efeitos danosos do medicamento na gravidez, resultando na malformação do embrião/feto, daí a expressão “vítimas da talidomida”, tecnicamente denominada “embriopatia por talidomida”.

O dano à vítima de talidomida consiste no encurtamento dos membros ligados ao tronco de fetos em mulheres grávidas, a chamada focomelia (membros similares aos de uma foca).

Atualmente, no Brasil, a talidomida é um medicamento distribuído exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e destinado ao tratamento de eritema nodoso hansênico (que afeta portadores de hanseníase) aids, lúpus, câncer, dentre outras enfermidades, com bastante sucesso terapêutico.

Contudo, a despeito do controle governamental, há o risco de que mulheres que precisarem fazer uso do medicamento, eventualmente engravidem, com chance do embrião/feto ser prejudicado pela ação colateral da talidomida.

O entendimento do TRF6 sobre a atualização do valor indenizatório

Com atenção a todas as peculiaridades do caso e ao amparo econômico trazido pela Lei nº 12.190/10 (que reconhece a indenização por dano moral às vítimas da talidomida), a relatora constata que a controvérsia diz respeito ao termo inicial da correção monetária e dos juros de mora (juros pelo atraso) sobre o valor indenizatório.

A juíza federal convocada Carmem Elizângela esclarece que a indenização aos atingidos pela Síndrome da Talidomida é hipótese distinta da simples indenização por dano moral, em que o arbitramento do valor da indenização ocorre apenas na sentença.

No caso das vítimas da talidomida, a indenização é prefixada pela Lei 12.190/2010, que já estabeleceu previamente o valor de R$ 50 mil reais ao responsável pelo pagamento e a hipótese de incidência, bem como a hipótese de pagamento na via administrativa, independentemente de processo judicial.

A relatora explica que, no caso em exame, quando o requerimento administrativo foi indeferido e a segurada deficiente se viu obrigada a ajuizar a ação respectiva, o INSS estaria em atraso (impondo-se a incidência dos juros de mora), na forma do art. 240 do Código de Processo Civil (CPC).

Já a correção monetária é devida desde o requerimento feito pela segurada junto ao INSS, que é o termo inicial para pagamento dos valores na via administrativa.

Decidiu-se, portanto, que a sentença recorrida deve ser mantida, com a aplicação da correção monetária a partir da data do requerimento administrativo, enquanto os juros de mora incidirão a partir da citação do Instituto (ou seja, quando o INSS foi informado sobre o processo e pôde contestar a ação judicial).

Processo n. 1002514-36.2024.4.06.9999.

TJ/DFT: Supermercado é condenado a indenizar cliente por abordagem vexatória

A 3ª Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) julgou recurso apresentado por supermercado contra decisão que havia condenado a indenizar consumidora por danos morais. O colegiado manteve o entendimento quanto à ocorrência do dano, mas reduziu o valor indenizatório para R$ 3 mil.

No caso, a cliente alegou ter sido abordada de forma vexatória pelo segurança do estabelecimento, que a acusou injustamente de não ter pago por compras anteriores. Em sua defesa, a ré sustentou que não ocorreu gritaria ou exposição excessiva, além de afirmar que as imagens em vídeo mostravam conduta regular. A consumidora, porém, apresentou provas de que a abordagem ocorreu na presença de outras pessoas, o que gerou constrangimento e alteração de seu estado de saúde.

Ao analisar a situação, os magistrados destacaram que a empresa, como fornecedora de serviços, possui responsabilidade objetiva por atos de seus funcionários. De acordo com a decisão, “a abordagem dispensada à autora possui aptidão para caracterizar violação aos direitos da personalidade, justificando, pois, a condenação a título de danos morais”. O colegiado também observou que não houve qualquer indício de conduta ilícita por parte da consumidora, de modo que a exposição pública foi considerada inadequada e desproporcional.

Como resultado, a turma concluiu pela configuração do dano moral, mas reduziu o valor fixado na sentença inicial de R$ 5 mil para R$ 3 mil. Essa quantia foi considerada suficiente para compensar os prejuízos sofridos pela vítima e, ao mesmo tempo, para desestimular práticas semelhantes por parte da empresa.

A decisão foi unânime.

Processo: 0711309-50.2024.8.07.0006

TJ/MG condena CVC e a GOL por frustrar lua de mel

Casal comprou passagens aéreas, mas precisou ir de carro para Natal.


A 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais manteve sentença da comarca de Igarapé que condenou uma operadora e agência de viagens e uma empresa de turismo a indenizar um casal que teve complicações na viagem de lua de mel em R$ 2.893,18 por danos materiais. Além disso, cada cônjuge irá receber R$ 8 mil por danos morais.

O casal ajuizou ação cobrando o reembolso das despesas e indenização por danos morais. Eles iriam passar a lua de mel em Natal/RN, entre os dias 18 e 23 de maio de 2021. Eles adquiriram as passagens aéreas, entretanto a empresa de turismo comunicou aos clientes, poucos dias antes da partida, que o voo havia sido cancelado.

Os consumidores não conseguiram a remarcação ou relocação em outro voo e foram obrigados a fazer a viagem no próprio automóvel.

A operadora e a empresa de turismo alegaram que não foram responsáveis pelo cancelamento do voo, mas tal argumento foi rejeitado pela juíza Tatiane Turlalia Mota Franco Saliba, da 2ª Vara Cível, da Infância e da Juventude e Juizado Especial Criminal da Comarca de Igarapé.

As duas companhias recorreram ao Tribunal. O relator, desembargador Rui de Almeida Magalhães, manteve a sentença.

Em seu voto, ele considerou que ficou comprovada a falha na prestação de serviço, que resultou no cancelamento do voo regularmente pago, “sem oportunidade de remarcação em data compatível”, e sem reembolso, “demandando a alteração de planos na viagem de lua de mel”.

Assim, o magistrado entendeu “devida a condenação da empresa à restituição dos valores despendidos pelo consumidor” e a reparação dos danos morais, porque o evento resultou em desgaste emocional e atingiu a integridade psíquica dos consumidores. Os desembargadores Marcelo Pereira da Silva e Adilon Cláver de Resende votaram de acordo com o relator.

Veja a decisão.
Processo nº 1.0000.24.465262-4/001

TRT/SP: Trabalhadora desprezada por ser mulher deve receber indenização

Sentença proferida na 13ª Vara do Trabalho de Guarulhos-SP condenou empresa de fornecimento de refeições a indenizar em R$ 7 mil por danos morais auxiliar de cozinha que sofreu tratamento discriminatório por ser do gênero feminino. De acordo com os autos, o superior hierárquico dizia que ela era uma “mulher fraca”, que “não tinha qualidade para estar ali” e não podia ser promovida porque era “mulher e mulher dá trabalho”.

No entanto, em uma ocasião em que o referido chefe estava de licença médica, a reclamante foi promovida pelo supervisor substituto. Ao retornar do afastamento, o superior questionou a promoção, alegando que deveria ter sido destinada a outro funcionário, de sexo masculino.

Em audiência, a testemunha autoral relatou que o chefe dizia que mulher “não tem capacidade para receber promoção”, além de priorizar ouvir os homens que atuavam no setor, mesmo que houvesse trabalhadoras com mais tempo de serviço. Confirmou também que o supervisor ficou insatisfeito com a promoção concedida à profissional. Para o juiz Vitor José Rezende, o relato confirmou as condutas machistas, reforçando “a alegação de discriminação, demonstrando que a reclamante enfrentou práticas incompatíveis com os princípios da igualdade e da dignidade no trabalho”.

A testemunha patronal, do sexo masculino, contou que foi promovido e o mesmo não aconteceu com uma colega de trabalho que exercia igual função. No entendimento do magistrado, isso revela que a empresa “sistematicamente adotava práticas discriminatórias, priorizando homens em processo de promoção e relegando mulheres a posições inferiores, independentemente de suas qualificações ou tempo de serviço”.

Segundo o julgador, que aplicou ao caso o Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça em 2021, o comportamento da ré evidencia “postura estruturalmente misógina”. E destacou que “é inadmissível que a Justiça do Trabalho sirva para normalizar práticas abusivas e discriminatórias contra mulheres no ambiente laboral”. Ele pontuou que o valor da reparação levou em conta, entre outros aspectos, a extensão do dano decorrente do assédio moral.

Processo pendente de análise de recurso.

Processo nº 1000307-19.2024.5.02.0323

TJ/MT: Clínica odontológica é condenada a indenizar paciente por falha em implantes dentários

A Primeira Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), condenou, por unanimidade, uma clínica odontológica de Cuiabá/MT por danos morais e materiais decorrentes de falhas num procedimento de implante dentário. A decisão manteve a sentença inicial de Primeira Instância, que já havia reconhecido a responsabilidade da clínica em ressarcir a paciente pelos danos causados.

O estabelecimento dentário foi condenado a pagar R$ 10 mil por danos morais e R$ 4.210 por danos materiais, referentes aos valores pagos pela paciente pelo tratamento malsucedido. Além disso, a clínica deverá arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação.

O caso – A paciente buscou a Justiça alegando que os implantes realizados pela clínica resultaram em dores e problemas de saúde, necessitando de um novo procedimento cirúrgico para correção. A clínica, por sua vez, alegou que não havia nexo de causalidade entre o procedimento e os danos sofridos pela paciente, e que o laudo pericial apresentado era inconclusivo.

No entanto, o Tribunal de Justiça, ao analisar o caso, entendeu que a paciente apresentou provas suficientes dos danos sofridos, enquanto a clínica não apresentou documentação que comprovasse a inexistência de falhas no procedimento. Além disso, a clínica foi considerada revel em diversos momentos do processo, o que contribuiu para a decisão desfavorável.

Com base no Artigo 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, o ônus da prova foi invertido, cabendo à clínica demonstrar que o serviço prestado foi adequado, o que não ocorreu. Diante da ausência de provas por parte da clínica e dos elementos apresentados pela paciente, o Tribunal reconheceu o nexo de causalidade entre o procedimento odontológico e os danos sofridos.

Sobre os danos morais, o relator considerou que a quantia de R$ 10 mil é justa e proporcional porque “a autora passou por um procedimento odontológico que lhe causou dores, desconforto e necessidade de refazer os implantes. Tais fatos ultrapassam o mero dissabor do cotidiano, justificando a compensação pelos danos morais sofridos, sem que o valor seja considerado desproporcional ou abusivo”. O relator também afirmou que, ao considerar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, entende que a quantia fixada é adequada ao caso.

Quanto aos danos materiais, o montante de R$ 4.210,00 foi considerado adequado, porque, conforme destacado pelo relator, “corresponde aos valores efetivamente pagos pela autora pelo tratamento odontológico mal sucedido, conforme comprovado por recibos nos autos”.

Veja o processo PJe: 0001476-66.2016.8.11.0055


Diário de Justiça Eletrônico Nacional – CNJ – MT

Data de Disponibilização: 03/05/2024
Data de Publicação: 06/05/2024
Região:
Página: 5370
Número do Processo: 0001476-66.2016.8.11.0055
TJMT – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO – DJEN
Processo: 0001476 – 66.2016.8.11.0055 Órgão: 1ª VARA CÍVEL DE TANGARÁ DA SERRA Data de disponibilização: 03/05/2024 Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Tipo de comunicação: Intimação Meio: Diário Eletrônico de Justiça Nacional Parte(s): WERONICA PEREIRA MOURA – COP CENTRO ODONTOLOGICO DO POVO LTDA, RAMIRO MURAD SAAD NETO Advogado(s): PAULO EDUARDO DE SOUZA POLOTTO OAB 79023-O SP SILVERIO POLOTTO OAB 27199-O SP CLEBER RANDAL BAPTISTA OAB 357897-O SP JOSYANE MARIA CORREA DA COSTA FERREIRA REGISTRADO(A) CIVILMENTE COMO JOSYANE MARIA CORREA DA COSTA FERREIRA OAB 14506-O MT BRUNA APARECIDA DA SILVA OAB 17549-O MT Conteúdo: ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE TANGARÁ DA SERRA SENTENÇA Processo n. 0001476 – 66.2016.8.11.0055 REQUERENTE: WERONICA PEREIRA MOURA REQUERIDO: RAMIRO MURAD SAAD NETO, COP CENTRO ODONTOLOGICO DO POVO LTDA I – Relatório Trata-se de Ação Ordinária de Restituição de Quantia Paga por Erro Odonotológico c/c Reparação por Danos Morais e Materiais com Pedido de Antecipação de Tutela, proposta por Werônica Pereira Moura em face de COP – Centro Odontológico do Povo e Ramiro Murad Saad Neto. Em sede de inicial (id. 73484728 – Pág. 7-48) a requerente sustentou que teve problemas odontológicos e procurou a empresa requerida para solucioná-los. Aduz que fora firmada a realização de 04 implantes, 02 coroas, aparelho e clareamento dental pelo valor de R$7.500,00 (sete mil e quinhentos reais). Ocorre que após dois meses do procedimento ter sido realizado, os implantes começaram a ocasionar dores e ao retornar a mesma Clínica afirma ter sido indicada a sua retirada para correção, por suposta má execução. Alega ter experimentado prejuízos financeiros e em sua saúde, pois lhe fora indicado como solução refazer os implantes já pagos, por meio da remoção, aplicação de enxerto e recolocação dos novos pinos. Sustenta que além de ter efetuado o pagamento do suposto procedimento mal executado, precisou arcar com novos exames (id. 73484728 – pág. 118 e 120) para averiguar as causas das dores e constatar a necessidade de nova cirurgia, a qual ficou em torno de R$20.000,00 (vinte mil), segundo o id. 73484728 – pág. 130. Ademais, explica que notificou a parte requerida no dia 01/09/2015, alegando rescisão contratual e necessidade de restituição dos valores pagos, mas não tivera retorno (id. 73484728 – pág. 96). Pugnou pela aplicação do Código de Defesa do Consumidor, com consequente inversão do ônus da prova, reconhecimento da responsabilidade civil, indenização por danos morais e materiais e deferimento de justiça gratuita. Deu-se à causa o valor de R$ 70.003,00 (setenta mil e três reais). Documentos comprobatórios da relação jurídica existente entre a parte autora e a parte ré no id. 73484728 – pág. 56 e seguintes. Boletim de Ocorrência juntado no id. 73484728 – pág. 110. Replanejamento ortodôntico juntado no id. 73484728 – pág. 130. Decisão indeferindo a liminar no id. 73484728 – pág. 142 e autorizando a concessão dos benefícios de justiça gratuita e a inversão do ônus da prova. Decisão notificando a ocorrência de citação do segundo requerido, COP – Clínica Odontológica do Povo, a qual fora silente e não se manifestara aos autos (id. 73484731- Pág. 72) A.R. atestando a citação do primeiro requerido, sr. Ramiro, após 05 (cinco) anos de tentativas infrutíferas (id. 73484734 – pág. 53) Contestação apresentada no id. 73484734 – Pág. 57 pela parte ré, Ramiro Murad Saad Neto, sustentando a ausência dos pressupostos de responsabilidade civil. Afirma ter realizado apenas 02 (dois) implantes na parte requerente, pois após 30 (trinta) dias do ocorrido, mudou-se de cidade por questões pessoais. Além disso, sustenta inexistir culpa por sua parte, além de afirmar que a prática da odontologia “depende da resposta do organismo da paciente”. Subsidiariamente esclarece que não recebera nenhum valor da autora, mas quem recebera fora a empresa a qual era vinculado, COP – Clínica Odontológica do Povo. Informa também que os contratos eram firmados diretamente com a Clínica e não com o profissional. Pugnou pela improcedência de todos os pedidos autorais e realização de perícia e oitiva de testemunhas. Em sede de impugnação à contestação (id. 73484734 – pág. 108) reiterou os argumentos da inicial, além de afirmar que requerido não juntara nenhuma documentação atestando êxito no procedimento que fora prestado. Juntou novos documentos comprovando gastos efetuados após o suposto erro dental (73484734 – pág. 112) Certidão atestando que o requerido COP – Centro Odontológico do Povo LTDA deixou transcorrer o prazo sem manifestação (id. 102532790) Intimados para especificarem as provas que pretendem produzir (id. 102803195), a parte requerida pugnou pelo depoimento pessoal, prova pericial e oitiva de testemunhas (id. 103428330) e a parte autora requereu o julgamento antecipado da lide (id. 103890411). Decisão Saneadora prolatada junto ao id. 107754364, a qual decretou a revelia do segundo requerido, COP – Centro Odontológico do Povo, deferiu a perícia médica e fixou pontos controvertidos. Manifestação pericial concordando com a designação (id. 109966651) e estabelecendo o valor a ser custeado. Manifestação do primeiro requerido, COP – Centro Odontológico do Povo, discordando da determinação de pagar os honorários periciais (id.121821158). O segundo requerido, sr. Ramiro Murad Saad Neto, manifestou-se afirmando não possuir qualquer documento do tratamento efetuado à autora, pois estes são de guarda e responsabilidade da empresa em que trabalhava à época (id. 131815359) Laudo pericial juntado ao id. 138115966, sobre o qual ambas as partes se manifestaram (id. 139011026 e id. 141212964). Vieram, os autos, conclusos. II – Fundamentação Haja vista a suficiência probatória dos elementos produzidos e juntados pelas partes, constata-se que o feito está apto para julgamento, logo, cabível a hipótese do art. 355, I, do Código de Processo Civil. Dito isso, registra-se que a interpretação e conclusão das provas do processo não se vinculam à leitura, nem ao benefício da parte que o produziu, conforme ao art. 412, parágrafo único, do CPC/15: Art. 412 (…) Parágrafo único. O documento particular admitido expressa ou tacitamente é indivisível, sendo vedado à parte que pretende utilizar-se dele aceitar os fatos que lhe são favoráveis e recusar os que são contrários ao seu interesse, salvo se provar que estes não ocorreram. Ao passo que a apreciação das provas e os fundamentos da conclusão desta sentença obedecerão ao princípio do livre convencimento motivado, consoante ordem do art. 371, CPC/15, qual seja: “Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”, passa-se assim, ao deslinde dos autos quanto ao conjunto fático-probatório. A presente lide cinge-se em torno dos seguintes pontos: a) Aplicação do Código de Defesa do Consumidor b) Do erro odontológico c) Dano moral; d) Dano material. a) Da aplicação do Código de Defesa do Consumidor Sustenta a requerente que é devida a aplicação do CDC quanto às demandas sobre erro odontológico. De forma insurgente, contrapôs o requerido, afirmando a aplicabilidade do mesmo regimento legal. A este respeito, é fundamental esclarecer sobre a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor para os serviços odontológicos. A jurisprudência é uníssona quanto a sua utilização nos processos de mesmo tema. Nesse sentido: EMENTA RECURSO INOMINADO – RELAÇÃO DE CONSUMO – CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS – CLÍNICA FRANQUEADA – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE FRANQUEADA E FRANQUEADORA – PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA REJEITADA – PRELIMINAR DE DECADÊNCIA REJEITADA – CONTRATO PARA TRATAMENTO ODONTOLÓGICO – TESE DE INEXECUÇÃO COMPLETA DO SERVIÇO – PLEITO DE DANO MATERIAL E MORAL – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA – HOMOLOGAÇÃO DA DESISTÊNCIA EM RELAÇÃO À FRANQUEADA E CONDENAÇÃO DA FRANQUEADORA – INSURGÊNCIA DESTA ÚLTIMA – TESE DE AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE E EVENTUAL CULPA DA FRANQUEADA – TESE DE EXECUÇÃO PARCIAL E AUSÊNCIA DE DANO MATERIAL E MORAL – PEDIDO ALTERNATIVO DE REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO MATERIAL E MORAL E CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ- FÉ – TRATAMENTO NÃO EXECUTADO NA FORMA CONTRATADO – DEMORA NA PRESTAÇÃO – RECLAMAÇÃO ADMINISTRATIVA INCLUSIVE NO PROCON – CUSTEIO PELO CONSUMIDOR DE NOVO TRATAMENTO – FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO – DANO MATERIAL DEVIDO – RESSARCIMENTO DO VALOR PAGO ABATIDO O SERVIÇO REALIZADO – DANO MORAL CONFIGURADO – VALOR RAZOÁVEL – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Nos termos do artigo 25, § 1º, do CDC todos os integrantes da cadeia de consumo são, igualmente, responsáveis pelos danos causados aos consumidores e, no caso, franqueadora e franqueada são solidariamente responsáveis pelos eventuais danos causados ao consumidor por falha na prestação dos serviços odontológicos contratados. A jurisprudência é pacífica no sentido de que à relação entre o consumidor e as partes do contrato de franquia são aplicáveis as disposições do Código de Defesa do Consumidor, havendo responsabilidade objetiva e solidária destas em relação aos danos causados aos consumidores. Há responsabilidade solidária da franqueadora, não havendo ser falar em ilegitimidade passiva. O prazo para reclamar quanto à falha na prestação do serviço odontológico contratado é prescricional e não decadencial, devendo ser aplicado o artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor, segundo o qual: “prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”. Não pode, pois, a franqueadora se eximir da responsabilidade frente ao consumidor, quando é a responsável pelo credenciamento de empresa inidônea para agir em seu nome, como se representante sua fosse. Portanto, ao conceder a franquia, deve acautelar-se, pois a franqueada vai angariar clientela valendo-se da marca daquela, gerando a confiança nos consumidores em relação à qualidade e idoneidade dos serviços, o que, caso, de fato, não ocorra, atrai a aplicação da solidariedade aludida no Código de Defesa do Consumidor. Em assim sendo, diante da inexecução do contrato de prestação de serviço odontológico, no valor de R$ 17.000,00, tendo havido apenas a realização de enxerto bucal, no valor de R$ 2.998,00, de rigor a restituição da diferença paga, tal como determinou o magistrado de origem que a condenou a ressarcir o valor de R$ 14.002,00. Portanto, não prevalece a tese de redução da indenização material porque houve execução de parte do serviço, uma vez que o próprio magistrado de origem fez esse abatimento. (…) No que se refere ao pleito de dano moral, forçoso o seu reconhecimento por se tratar de serviço odontológico, cuja ineficiência e demora, obrigando o consumidor a custear novo tratamento enseja o reconhecimento de que os fatos ultrapassam o mero aborrecimento da vida civil e, no caso, o valor fixado atende às peculiaridades do caso, devendo ser mantido. Por fim, não prevalece a tese de litigância de má-fé, pois tal como justificado na origem a parte promovente sagrou-se vencedora, tendo sido acolhidos suas teses, de modo que não se mostram presentes os requisitos para tal condenação. Sentença mantida. Recurso desprovido. (TJ-MT 10194306820198110002 MT, Relator: LUCIA PERUFFO, Data de Julgamento: 16/03/2021, Turma Recursal Única, Data de Publicação: 18/03/2021) Assim, ocorrendo a aplicação do CDC no presente caso, reitera-se o deferimento proferido de inversão ônus da prova (id. 73484728 – Pág. 146) para analisar se os requeridos cumpriram com seu dever de juntar aos autos documentos comprobatórios da inexistência de falha no serviço prestado. No presente processo, denota-se a ausência de documentação comprovando o sucesso no serviço prestado. Não há nenhum laudo ou exame juntado pela parte requerida que afaste a veracidade das alegações autorais, demonstrar que o procedimento cirúrgico não tivera falhas na execução. Logo, aplicando-se o Código de Defesa do Consumidor, é dever do prestador do serviço ressarcir os prejuízos sofridos pela parte, conforme o art. 14 da Lei n° 8.078/90. Ademais, nesse mesmo sentido, o Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, proferiu junto ao REsp 1.426.578/SP publicado no DJe de 22.9.2015: Extrai-se dos arts. 14 e 18 do CDC a responsabilização solidária de todos que participem da introdução do produto ou serviço no mercado, inclusive daqueles que organizem a cadeia de fornecimento, pelos eventuais defeitos ou vícios apresentados. Logo, RECONHECE-SE o dever da empresa COP – Clínica Odontológica do Povo em reparar os danos causados pelo serviço executado inadequadamente, em cumprimento ao Código de Defesa do Consumidor e em observância ao art. 14 do mesmo dispositivo. Nesse sentido: Recurso de Apelação Cível nº 1004600-43.2020.11.0041-Capital. Apelantes: Centro Odontológico Hospital do Dente Ltda., Clínica Odontológica Sorriso Popular Ltda., e Janaína Marques dos Reis. Apelados: os mesmos E M E N T A AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL – SERVIÇO ODONTOLÓGICO – ALEGADO ERRO OU FALHA DO SERVIÇO – CULPA CONFIGURADA -DEVER DE INDENIZAR – DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS – EVIDENCIADOS – RESSARCIMENTO DEVIDO – SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. É certo que a clínica odontológica, na qualidade de fornecedora de serviços que o é, responde de forma objetiva pelos prejuízos causados ao consumidor, nos exatos termos do artigo 14 do CDC, independente de comprovação de culpa. Desse modo, exige-se a violação de um direito da parte, da comprovação dos fatos alegados, da conduta, dos danos efetivamente sofridos pelo consumidor, e do nexo de causalidade entre a conduta e o dano amargado. Comprovada a falha na prestação de serviço, decorrente do agir imprudente na realização de tratamento de extração de dente, que resultou em sequelas que acarretam perda da funcionalidade bucal da paciente, deve a empresa ressarcir os valores efetivamente pagos, bem como reparar pelos danos moral e estético decorrentes. Sopesados com razoabilidade e proporcionalidade o quantum a titulo de danos morais, deve ser mantida o valor arbitrado. Sentença parcialmente reformada. (TJ-MT 10046004320208110041 MT, Relator: CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, Data de Julgamento: 16/11/2022, Terceira Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 16/11/2022) b) Do erro odontológico A saúde é um estado de bem-estar inerente ao ser humano, considerada um direito social fundamental e entrelaçada intrinsecamente ao direito à dignidade da pessoa humana e o direito à vida. Não por menos, o legislador originário elencou o direito à saúde com uma importância diferenciada, conferindo a este direito um capítulo próprio na Carta Magna de 1988 (arts. 196 a 200), nisso residindo, portanto, a plausibilidade do direito invocado. No caso dos autos, o vínculo contratual entre a parte autora e a parte ré fora celebrado a partir de 15 de maio de 2015, quando a parte autora procurou o requerido e fora orientada a proceder com uma série de medidas odontológicas (quatro implantes dentais, dois coroas, uso de aparelho ortodôntico e clareamento dental), conforme se extrai do documento de id. 73484728 – pág. 62. Ocorre que, apesar de citada, a Clínica do Povo – COP não se manifestou nem cumpriu com a inversão do ônus da prova, deixando de juntar qualquer contrato firmado entre as partes que pudesse verificar o tratamento indicado e seu sucesso. No mesmo sentido o primeiro requerido, o qual apresentara contestação, sr. Ramiro Murad Saad Neto, afirmou que quem detém a guarda da documentação sobre pacientes é a Clínica. Além disso, aduziu que apenas realizou dois dos quatro implantes que fora recomendado, pois dias após o atendimento mudou-se de cidade por questões pessoais. Logo, primeiramente, cabe ora reconhecer que o dentista não nega o trabalho efetuado de colocação dos implantes. Desta forma, em se tratando procedimento odontológico, a obrigação é, em regra, de resultado. Logo, caberia à clínica odontológica demonstrar a inexistência de falha na prestação dos serviços ou a culpa exclusiva/concorrente da autora, o que não ocorreu. O segundo requerido, igualmente, não conseguiu comprovar ausência de falha do serviço prestado. Antes, confirmou a realização do atendimento e colocação de dois implantes. Além disso, há nos autos uma série de documentação afirmando reiterada utilização de medicação em datas subsequentes ao implante efetuado, o que, por sua vez, implica no reconhecimento de que a requerente não ficara bem após o procedimento cirúrgico. Logo, em que pese a alegação do requerido de que o sucesso do procedimento depende da aceitação do organismo pessoal, frisa-se que os receituários juntados demonstram que a requerente já colocara 04 implantes, conforme descrição do Plano de Atendimento, colacionado no id. 73484728 – pág. 62, o qual dispõe: “Forma de Pagamento: JÁ FORAM FEITOS 4 IMPLANTES, PACIENTE JÁ EFETUOU 2300 REIAS (sic) DE PAGAMENTO. VAI TRAZER OS… (sic)” e que, em seguida, recebera a orientação de retirada e nova colocação. Desta forma, há documentação que afirma a realização do procedimento e Raio-X mostrando implantes mal posicionados, razão pela qual se acolhe o fato de falha na prestação do serviço. Por oportuno, em que pese o debate de quantidade de implantes, imperioso observar que o Raio-X anexado mostra apenas dois implantes, e não quatro. Conquanto que no próprio documento da referida empresa, o Planto de Atendimento, há a afirmação de já terem sido colocados quatro implantes (id. 73484728 – pág. 62). Ou seja, é contraditória a quantidade de implantes que foram colocados, sendo impossível a este Juízo o papel investigador, mas é possível aferir os que foram colocados causaram dano ou não à autora, haja vista que há confirmação por parte do dentista de ter realizado o procedimento cirúrgico de colocação de implantes dentários. Cumulativamente a tais fatos, cabe esmiuçar que o laudo apresentado fora inconclusivo. Não há no laudo pericial a confirmação de existência do dano e nem a demonstração de inocorrência de falha na prestação de serviço. Ademais, junto ao id. 73484728 – Pág. 66 há documentação atestando a necessidade de remoção dos implantes, devidamente rubricado ao final. Insurge o laudo técnico afirmando que o mesmo não detém prova de veracidade, por ausência de carimbo do profissional que o emitiu. Contudo, tendo em vista a inversão do ônus da prova deferida, as partes rés não comprovaram a inveracidade do mesmo. Não trouxeram todas as guias referentes ao paciente, ou ao menos as necessárias ao objeto desta ação, razão pela qual mantêm-se como fidedigna o documento em questão. Explica-se que este reconhecimento é devido, pois há o já mencionado Plano de Atendimento. Nele há confirmação de que o requerido realizou o procedimento cirúrgico, assim como há o documento afirmando a necessidade de retirada dos mesmos implantes, papel esse emitido pela própria COP – Clínica Odontológica do Povo (id. 73484728 – pág. 66). Portanto, perante a comprovação de realização da cirurgia de colocação dos implantes dentários e ausência de comprovação de que o serviço prestado fora bem executado, pois os requerido não juntaram qualquer documentação, ACOLHE-SE a pretensão autoral para reconhecer o dano causado e determinar a sua integral restituição. c) Do dano moral A parte autora assinala que os implantes dentários colocados erroneamente causaram enormes dissabores e lhe acarretaram danos morais e materiais. Assim, configurada a ocorrência de dano à saúde autoral, bem como reiterado aborrecimento em procurar ajuda especialidade após o insucesso do procedimento odontológico, é possível verificar que os fatos arguidos autorizam a indenização postulada. O dano moral não decorre de qualquer dissabor, de qualquer contrariedade ou adversidade, mas sim de um abalo gravoso. Nesse caso, a autora precisou buscar novo tratamento, deslocar-se de sua cidade para outra que tivesse atendimento, além de todas as dores bucais que experimentou e ensejaram as diversas receitas odontológicas indicando medicamentos para conter as dores. Logo, é forçoso reconhecer que tais fatos ultrapassam o mero aborrecimento da vida civil. Verifica-se, assim, a prévia ocorrência do abalo psicológico irrazoável. A respeito do quantum indenizatório, conforme o art. 944 c/c art. 949 do CC/02, cumpre esclarecer que o valor pleiteado pela autora deve ser ajustado para a moderação, sem se tornar fonte de lucro. Nesse mesmo sentido: RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS – TRATAMENTO ODONTOLÓGICO – FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO – DANO MORAL CONFIGURADO – MAJORAÇÃO DO QUANTUM – TESE REJEITADA – DEVOLUÇÃO DA QUANTIA PAGA PELO TRATAMENTO MAL SUCEDIDO – POSSIBILIDADE – LUCROS CESSANTES – PREJUÍZO NÃO COMPROVADO – SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Na fixação da indenização pelos danos morais, o Julgador deve pautar-se pelo bom senso, moderação e prudência, sem perder de vista que, por um lado, a indenização deve ser a mais completa possível e, por outro, ela não pode tornar-se fonte de lucro. No caso, a indenização foi arbitrada na quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), o que atende ao caso em exame e não comporta alteração. Se o tratamento odontológico realizado não atingiu o resultado almejado, imperiosa a condenação da empresa à devolução integral da quantia paga, com juros de mora e correção pelo INPC. Sentença reformada neste capítulo. Para o acolhimento do pedido de lucros cessantes é imprescindível a prova do que a parte efetivamente deixou de lucrar. No caso, a Apelante deixou de acostar qualquer elemento concreto que pudesse comprovar sua narrativa, precipuamente no tocante aos seus rendimentos em decorrência da atividade laboral exercida. (TJ-MT – AC: 10151278820198110041, Relator: CLARICE CLAUDINO DA SILVA, Data de Julgamento: 08/03/2023, Segunda Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 12/03/2023). APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -RESPONSABILIDADE CIVIL – ERRO NO PROCEDIMENTO ODONTOLÓGICO DEMONSTRADO – IMPLANTES DENTÁRIOS – OBRIGAÇÃO DE RESULTADO – CULPA DO PROFISSIONAL COMPROVADA – DANO MORAL VERIFICADO – PRESENÇA DE NEXO CAUSAL – INDENIZAÇÃO DEVIDA – VALOR ARBITRADO RAZOÁVEL – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Em se tratando procedimento odontológico de implante dentário, a obrigação é, em regra, de resultado. logo caberia à clínica odontológica demonstrar a inexistência de falha na prestação dos serviços ou culpa exclusiva ou concorrente da autora, o que não ocorreu. Verificada a conduta ilícita por imperícia, negligência ou imprudência por parte do preposto da requerida, o dano e o nexo de causalidade, resta caracterizada a responsabilidade civil. A indenização por danos morais fixada de forma proporcional às circunstâncias do caso, com razoabilidade e moderação, não comporta redução. (N.U 1000425- 52.2022.8.11.0003, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, GUIOMAR TEODORO BORGES, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em 08/02/2023, Publicado no DJE 10/02/2023). Portanto, perante o dano experimentado pela parte autora, determina-se o pagamento do montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais) pelos abalos irrazoáveis sofridos em decorrência do implante feito erroneamente. d) Do dano material – ressarcimento pelos valores adimplidos de tratamento odontológico Ao cabo, pugna a parte autora pelo pagamento do valor atualizado de R$6.899,72 (seis mil oitocentos e noventa e nove reais e setenta e dois centavos) referentes aos valores pagos pelo tratamento odontológico, bem como o valor corrigido de R$52.103,29 (cinquenta e dois mil, cento e três reais e vinte e nove centavos), calculado com base em exames e o orçamento de novos implantes (id. 73484728 – pág. 126). No caso em apreço, restou comprovado que a autora experimentou erro odontológico na colocação de seus implantes dentários, razão pela qual deve ser ressarcida pelos valores já custeados de tratamento, os quais são comprovados por meio dos recibos de id. 73484728 – Pág. 70, 72, 74 e 76, totalizando o valor principal de R$4.210,00 (quatro mil duzentos e dez reais) e não o montante pleiteado. Esmiúça-se que os canhotos de cheque apresentados no id. 73484728 – pág. 79 são prova unilateral confeccionado à próprio punho, não permitem constatar qual o real montante pago e nem identificar o beneficiário do título, razão pela qual não se considera como comprovação, restando acolhidos apenas os recibos acima já delineados. Por conseguinte, os demais valores requeridos à título de danos materiais calculados em R$52.103,29 (cinquenta e dois mil, cento e três reais e vinte e nove centavos) no id. 73484728 – Pág.126, referentes aos gastos com Exames, Combustível e Orçamento de novo tratamento odontológico não são devidos à autora. Apesar das alegações de que estes foram realizados em decorrência do erro odontológico, bem como de que o combustível (id. 73484728 – Pág. 122, 124) fora para se deslocar em busca de uma solução para o dano sofrido, não há prova robusta – qualquer laudo e documento – que ateste o alegado. Não é possível configurar o nexo causal entre os erros dentais e as notas fiscais (id. 73484728 – Pág. 118, 120) dos supostos exames realizados para investigar o novo tratamento e ora pleiteados como dano material. Por oportuno, o recibo colacionado junto ao id. 73484734 – pág. 117 e 119 no valor de R$3.500,00 (três mil e quinhentos) não diz respeito aos implantes pugnados, mas possuem no Atestado Médico o CID: K02.9, o qual se refere a cárie dentária e não a tratamento pós-cirúrgico ou recolocação de implantes. Além disso, o outro documento juntado de id. 73484734 – pág. 112 afirma o recebimento do valor de R$4.000,00 (quatro mil reais), porém sem novamente comprovar que fora em decorrência de erro odontológico ou para tratamento dos implantes mal colocados. Diante do exposto, RECONHECE-SE a responsabilidade da empresa COP – Clínica Odontológica do Povo em ressarcir exclusivamente o montante de R$4.210,00 (quatro mil duzentos e dez reais) pagos a título de tratamento odontológico de colocação de implantes, o qual fora prestado com falhas gravosas à autora. III – Dispositivo Ante o exposto, julga-se PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos, extinguindo-se o feito, com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil, para: (a) RECONHECER a responsabilidade da COP – Clínica Odontológica do Povo em ressarcir os danos morais e materiais já delineados na fundamentação e subsidiariamente do profissional liberal, segundo requerido, Ramiro Murad Saad Neto. (b) CONDENAR a empresa COP a pagar à autora a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos morais, o qual deverá ser corrigido monetariamente desde a presente data e acrescida de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação. (c) CONDENAR a parte ré a pagar à autora a quantia de R$4.210,00 (quatro mil duzentos e dez reais), a título de danos materiais, ressarcindo a mesma pelo tratamento odontológico que lhe causara dano em sua saúde bucal. Em razão da sucumbência em parte substancial dos pedidos, condeno a ré, ainda, ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios da parte adversa, que fixo em 10% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, § 2º, do CPC. Ficam as partes advertidas que a oposição de eventuais embargos de declaração com efeitos de mera reapreciação do quanto decidido serão tidos como protelatórios, podendo ser apenados com as sanções do artigo 1.026, §2º, do Código de Processo Civil. Transitada em julgado, sem manifestação das partes, remetam-se ao arquivo com as anotações e baixas. Intimem-se. Cumpra-se. Tangará da Serra, data registrada no sistema. RAMON FAGUNDES BOTELHO Juiz de Direito

TRT/MG nega vínculo de emprego entre médico e empresa de plano de saúde

Os julgadores da Quinta Turma do TRT-MG, por unanimidade, negaram provimento ao recurso de um médico que buscava o reconhecimento de vínculo empregatício com uma empresa de plano de saúde que atua na capital mineira. A decisão é de relatoria do desembargador Paulo Maurício Ribeiro Pires. Constatou-se que o profissional prestava serviços à empresa com autonomia, desenvolvendo suas atividades sem a presença dos pressupostos estabelecidos no artigo 3º da CLT, sobretudo a subordinação jurídica. Diante disso, foi mantida sentença oriunda da 22ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, que já havia descartado a relação de emprego pretendida na ação.

As versões das partes
O profissional alegou que foi admitido pela empresa em 2016, para atuar como médico geriatra, realizando atendimentos pelo plano de saúde da ré em Belo Horizonte. Relatou que, em 2018, foi compelido a constituir pessoa jurídica para que continuasse a trabalhar para a ré, mas sem qualquer mudança na forma de execução das atividades. Afirmou que sempre atuou na condição de empregado, mas jamais teve anotada a Carteira de Trabalho e Previdência Social e não recebeu os direitos trabalhistas devidos. Relatou ainda que cumpria horário fixo, não tinha autonomia para gerenciar sua agenda e estava subordinado às diretrizes da empresa, inclusive quanto ao valor das consultas, caracterizando a subordinação jurídica necessária para o vínculo. Contou que, em 2023, foi informado sobre a rescisão imotivada do contrato de trabalho.

A empresa se defendeu alegando que o médico atuava de forma autônoma, estabelecendo seus próprios horários e assumindo os riscos da atividade, por meio da pessoa jurídica que constituiu para prestar serviços. Argumentou que ele tinha plena liberdade profissional, atendendo consultas de acordo com sua conveniência e disponibilidade, sem obrigatoriedade ou controle direto da empresa, podendo, inclusive, solicitar o cancelamento ou o reagendamento das consultas.

Prova testemunhal
As testemunhas ouvidas confirmaram a tese da ré. Os relatos demonstraram que o médico tinha liberdade para gerir sua agenda, definindo os dias e horários de atendimento, não havendo controle de jornada típico de um empregado.

Segundo o apurado, havia a possibilidade de bloquear a agenda/cancelar atendimentos, conforme a própria conveniência do autor, e a “penalidade” limitava-se ao não recebimento pelos atendimentos não prestados. Essas circunstâncias, como observou o relator, também estão atreladas à natureza do contrato de trabalho autônomo, já que a remuneração ocorre apenas quando há efetiva prestação dos serviços.

Ausência de subordinação
O relator destacou que, para o reconhecimento do vínculo empregatício, é indispensável a presença concomitante dos pressupostos como pessoalidade, não eventualidade, onerosidade e subordinação. No caso, ficou provada a ausência da subordinação jurídica, elemento que se caracteriza pela submissão do empregado ao poder diretivo do empregador e que representa o principal traço distintivo entre o empregado e o profissional autônomo.

“A diferença central entre as figuras do trabalhador empregado e do trabalhador autônomo reside, portanto, na existência da subordinação: enquanto esta traduz a circunstância juridicamente assentada de que o trabalhador acolhe a direção empresarial no tocante ao modo de concretização cotidiana de seus serviços, a autonomia traduz a noção de que o próprio prestador é que estabelece e concretiza, diuturnamente, a forma de realização dos serviços que pactuou prestar”, frisou o relator.

STF e Pejotização
Sobre o contrato de prestação de serviços celebrado entre a empresa e a pessoa jurídica constituída pelo médico, o desembargador ressaltou que a legalidade da contratação tem amparo na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), que autoriza a chamada “pejotização” (prática em que empresas contratam trabalhadores como prestadores de serviços através de pessoas jurídicas) em casos de terceirização lícita de serviços.

Hipersuficiência
O julgador ainda ponderou que, no caso, o reclamante se enquadra na condição de trabalhador hipersuficiente (artigo 444 da CLT), tendo em vista que possui diploma de curso superior e que sua contraprestação mensal era, em média, igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, como constou das notas fiscais apresentadas no processo. O grau de instrução elevado do reclamante, de acordo com o desembargador, indica que ele estava plenamente ciente das implicações de prestar serviços à empresa mediante a interposição da pessoa jurídica por ele constituída ou sem o registro na CTPS.

Diante do entendimento de que a relação entre o médico e a empresa caracterizava-se por um contrato de natureza autônoma, foi mantida a decisão de primeiro grau que julgou improcedente o pedido de vínculo de emprego.

Processo: PJe: 0010541-17.2023.5.03.0022 (ROT)


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