Maltratado, menino pede socorro à polícia

Foi por telefone que o menino de 12 anos pediu ajuda. O diálogo entre ele e o policial é comovente. Aconteceu em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. É uma história triste de abandono e desamparo.

A mãe simplesmente saiu de casa e deixou o filho de 12 anos trancado com os irmãos pequenos. O caso também levanta uma questão: o que se pode fazer para ajudar crianças que crescem em famílias sem nenhuma condição de cuidar delas?

As crianças estavam trancadas em uma casa. O mais velho estava com os irmãos: um de 2 anos e um bebê de cinco meses de idade. Foi o irmão mais velho que ligou para a polícia.

“É que a minha mãe me deixou preso aqui com meus irmãos. Quase sempre ela faz isso. E aí minha irmã está sem leite, está sem alimento. O que eu poderia fazer? Ela [a mãe] tem ciúme do meu pai. Aí eu acho que ela tem depressão, ela já esteve internada”, disse o menino ao policial.

O policial fica surpreso. “Tenho 12 anos e minha irmã tem cinco meses. Estamos presos”, continuou o menino. Na conversa, dá até para ouvir o bebê chorando. A criança revela que sofre agressões.

“A mãe faz isso todo sábado, todo domingo. Ela também me bate, me deixa com lesões. Já queimou minha mão e já queimou minha barriga”, disse o menino.

“Você não tem como abrir a porta da casa?”, pergunta o policial.

“Só se eu arrebentar a porta”, respondeu o menino.

Ele explica como conseguiu fazer a ligação. “Ela tirou o telefone da residência para eu não ligar para ninguém. Esse aqui é o meu celular. Saber que eu tenho ela sabe, mas eu escondi para ela não pegar”, comentou.

A Policia Militar foi ao local e libertou as crianças. “Eles estavam com muita fome e chorando. A criança estava toda suja”, contou o cabo Luís Antônio Pires, da Polícia Militar.

Os irmãos ficaram cinco horas na delegacia. Uma testemunha disse que essa não foi a primeira vez que a mãe abandonou os filhos. “Acho que ela não tem medo de perder a guarda, porque a polícia já foi lá e ela está fazendo de novo”, disse a testemunha.

A mãe não foi localizada. O pai, que é pedreiro e trabalha em outro município, foi chamado. Ele disse que não sabia de nada. Por orientação do Conselho Tutelar, as crianças foram devolvidas ao pai.

No domingo (4), a equipe de reportagem do programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo foi até a casa da família. Ninguém atendeu. Vizinhos disseram que as crianças não dormiram lá. Ao ouvir a gravação, o coordenador da infância e juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Antônio Carlos Malheiros, ficou preocupado.

“Que coisa trágica. Agora me preocupa em dobro, porque essas crianças vão se punidas. O menino, para chegar a esse ponto de denunciar a própria mãe, deve ter apanhado muito, mas muito. A coisa pode ter passado das surras”, acredita o desembargador.

Antônio Carlos Malheiros prometeu acompanhar de perto esse caso. “Se for o caso, comprovação de maus tratos, vamos já instaurar um processo para cuidar desse assunto, já suspender definitivamente o poder familiar e colocar para adoção”, afirmou o desembargador.


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