Carta ao Senador Delcídio

“Não permita que a sua imagem, neste momento muito boa entre toda a nação, venha a diluir-se para atender interesses menores e escusos do partido…”

Senhor Senador Delcídio do Amaral, nunca fomos apresentados, não votei no senhor, nunca nos falamos. De minha parte isso não é estranho, pois tenho poucos amigos e com esses poucos, falo pouco. Mas, conheci seu pai e sua mãe na Corumbá de nossa infância e juventude e essa velha lembrança me encoraja no atrevimento desta carta. Vamos aos fatos.

O Senhor é presidente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que pode mudar a história política da nação. Está em suas mãos. Mas, é certo que, se o senhor fizer tudo aquilo que é preciso fazer, poderá ser expulso do seu partido, ou viver nele, para sempre, como um corpo estranho. Do ponto de vista do PT, sua culpa ficará transparente pois o senhor foi colocado nesse cargo, pelo partido, para não fazer aquilo que deve ser feito. A função que o partido lhe deu foi de ocultar, esconder, tergiversar, mentir. E como as evidências da corrupção estão publicamente escancaradas, acho que ao aceitar a orientação do seu partido, poderá estar optando por um suicídio político e esfacelamento moral.

Leio em jornal local que o senhor se sente à margem do encaminhamento das eleições internas do PT estadual. Na semana passada saiu também a notícia, logo desmentida, de que após a CPI o senhor abandonaria o partido. Essas notas parecem sinais de sua desestabilização no PT. Na realidade, dizem que o senhor nunca foi bem aceito pelos chamados históricos do partido. Não sei bem o que é ser histórico, mas, por algumas figuras que conheço, é melhor não ser. E de algumas pessoas que também conheço, no partido, tenho certeza que o senhor receberá aplausos pelo cumprimento do dever.

O dever é simples: punir. Não há mais nenhuma criança neste país que não esteja convencida da desonestidade e corrupção montada pelo seu partido. O volume de dinheiro desviado é tão alto que parece um insulto diante das dificuldades no dia-a-dia das pessoas.

O dever é simples: punir. Sei Senador que o senhor recebe pressões muito fortes para fugir a esse dever. Conheço o imoral e ilusório raciocínio de que todos usam caixa 2 para eleições. Conheço mais, o raciocínio inconscientemente instalado na personalidade do corrupto, para quem tirar do governo não é roubo, como se o dinheiro público não tivesse dono.

O dever é simples: punir. Não permita que a sua imagem, neste momento muito boa entre toda a nação, venha a diluir-se para atender interesses menores e escusos do partido. Não aceite o papel de ‘pizzaiolo” dessa massa já fermentada e azeda que começa a feder.

Abílio Leite de Barros
Pecuarista e escritor albcg@terra.com.br

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