Quase dez anos depois da “Operação Arca de Noé” desencadeada pela Polícia Federal uma revelação que ajuda a entender o intrincado mundo – ou submundo – do poder em Mato Grosso: a de três juízes que não tiveram coragem de enfrentar o “todo poderoso” João Arcanjo
As investigações para o desmoronamento do “Império” do ex-poderoso João Arcanjo Ribeiro sofreu dois golpes e não aconteceu por duas vezes. Primeiro em 1998 as investigações da Polícia Civil foram interrompidas por um motivo óbvio: vazamento de informações. Em 2001 elas foram retomadas, e com quase tudo pronto, outra vez as investigações sofrem um duro golpe: três juízes alegaram “foro íntimo” e não quiseram expedir os mandados de busca e apreensão e as prisões preventivas contra a quadrilha chefiadas por João Arcanjo.
Um membro do Judiciário conversou com a reportagem do Portal de Notícias 24 Horas News quando detalhou o que aconteceu na época, antes da “Operação Arca de Noé” em 2002. Mesmo assim, até hoje ninguém conseguiu provar, muito menos explicar como “Arcanjo” fugiu e só foi preso mais de um ano depois, em 2003, no Uruguai.
Dvidida, pois na época a Polícia Civil, segundo as investigações, além das acusações de receber propina, muitos policiais e militares também recebiam “presentes”, inclusive riquíssimas cestas de Natal.
Por isso, as investigações que começaram 1998 fracassaram. O óbvio aconteceu: alguém foi correndo contar para o “patrão” – como era tratado Arcanjo na época -, que as investigações estavam em andamento e que ele, mesmo que “impossível” poderia, pelo menos correr o risco de ser indiciado.
As investigações, no entanto, retomaram no final de 2001 com mais força, pois contavam com as participações de vários promotores. Com mais força e com mais sigilo, as investigações avançaram a um tal ponto, que foi possível representar pelas buscas e apreensões e por diversas prisões preventivas, entre ela a do bicheiro João Arcanjo Ribeiro.
Só que, veio o segundo golpe. Três juízes foram procurados por promotores de Justiça de Mato Grosso para assinarem as buscas e as prisões, mas nenhum deles teve coragem. Foram três não e muitas desculpas. Na época ninguém sequer ousava entrar num mesmo banheiro onde Arcanjo estava fazendo suas necessidades fisiológicas.
Quando João Arcanjo ia jantar em um restaurante, seus seguranças cercavam o local, inclusive o banheiro, pois quando Arcanjo entrava no banheiro os seguranças não deixavam outras pessoas entrarem até que o “patrão” saísse.
Os três falaram a mesma coisa: “foro íntimo” com a principal desculpa. Os magistrados também alegaram que não teriam respaldo do Tribunal de Justiça.
Ao ser procurado antes por promotores, um dos juízes ainda chegou a confirmar que assassinaria as buscas e as prisões nas próximas 72 horas. O tempo passou, e o magistrado não assassinou e ainda assumiu que estava com medo. Afirmou inclusive que não colocaria em risco a vida dele e de sua família.
Morta pela segunda vez, as investigações foram parar nas mãos do procurador Federal José Pedro Taques, que representou pelas prisões preventivas e pelas buscas a apreensões. O juiz Julier Sebastião das Silva, da 1ª Vara Criminal Federal decretou todas.
João Arcanjo Ribeiro, o “Comendador”, é ex-policial em Mato Grosso e se tornou dono de jogo do bicho e dono de empresas de “factoring” e de uma rede de hotéis. A mega “Operação Arca de Noé” foi montada pelo Ministério Público de Mato Grosso com a participação da Polícia Federal, para prender e indiciar Arcanjo e desmontar sua organização criminosa.
Na operação, foram mobilizados 160 policiais federais, 30 policiais rodoviários federais, três procuradores da República, vinte promotores de Justiça e seis fiscais federais. Foram feitas buscas em 20 lugares diferentes, quando foram reunidos uma série de documentos que comprovariam a prática do crime de “lavagem” de dinheiro, sonegação fiscal e formação de quadrilha .
Dentre os bens de Arcanjo apreendidos na operação, estão 2.303 imóveis, sendo 1.384 apartamentos em construção e outros 710 já prontos; uma fazenda de psicultura com 3.768 hectares e outra de soja, com 8.260 hectares; um “shopping center”; três hotéis no país e um em Orlando, nos EUA. Além dos imóveis, foram apreendidos uma aeronave Cessna Citation, no valor de US$ 6 milhões.
Também foram apreendidos trinta outros veículos, 105 bens móveis, dentre jóias e barras de ouro; e mais de seis mil itens correspondentes a ativos financeiros no país, que totalizam mais de R$ 38 milhões. Foram indisponibilizados também cerca de R$ 8,6 milhões que estavam depositados em contas correntes bancárias no país em nome do bicheiro.
16 de dezembro
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