Um grupo de advogados protocolou no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma petição na qual afirma que o julgamento do mensalão pelo STF (Supremo Tribunal Federal), marcado para ter início no dia 2 de agosto, irá interferir nas eleições municipais de outubro. “Nada mais inconveniente e inoportuno”, sustenta o documento, a respeito da época em que transcorrerá o julgamento.
Os advogados pedem que a presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, manifeste esta “preocupação” a seus colegas no Supremo Tribunal, responsáveis por julgar a Ação Penal 470 no mês de agosto.
Entre os cinco advogados que assinam a petição, está o diretor do curso de Direito da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Marcelo Figueiredo. O idealizador da ação foi o advogado Marco Aurélio Carvalho, sócio de um escritório de advocacia e coordenador do setorial jurídico do PT (Partido dos Trabalhadores).
Embora seja ligado ao partido — assim como os advogados Fábio Gaspar e Gabriela de Araújo, que também assinam o documento —, Carvalho sublinha que a iniciativa não partiu de dentro do PT. “A ação é fruto de um grupo de advogados, que integram um foro de discussão jurídica”, disse. O advogado Ernesto Tzulrinik também assina o documento.
O documento argumenta que o sistema político-eleitoral brasileiro orienta-se pela “preservação do maior equilíbrio possível entre os candidatos”. No entanto, argumentam os advogados, o julgamento do mensalão em período de campanha eleitoral macula o cenário saudável e ideal de disputa partidária.
“O desequilíbrio, em desfavor dos partidos envolvidos, é evidente”, sustentam. Além do PT, também estão envolvidos na ação penal o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), o PP (Partido Progressista), o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e o PR (Partido da República) — que, à época, ainda se chamava PL (Partido Liberal).
“Tem-se o pior dos mundos: a judicialização da política e a politização do julgamento”, sinalizam os advogados. “Perde a democracia, com a realização de uma eleição desequilibrada. Perde a república, com o sacrifício dos direitos dos acusados ao devido processo legal”, continuam.
O eleitor e a mídia
Os advogados também demonstram preocupação com a exposição do caso na mídia e com o tratamento que a imprensa dará ao julgamento. “Como assegurar que o tratamento equânime seja garantido na cobertura que a imprensa conferirá aos debates entre acusação e defesa?”, indaga a petição.
Embora acreditem que as instituições do sistema eleitoral adquiriram “notável progresso”, os advogados afirmam que é preciso ter cautela. Para eles, a história recente demonstra que é necessário um olhar cuidadoso ao observar a postura dos atores eleitorais — sejam eles os próprios candidatos, bem como os grupos de comunicação ou os detentores do poderio econômico.
A petição argumenta que a exposição midiática, “à exaustão”, dos assuntos relacionados ao julgamento do mensalão — televisionado gratuitamente pela TV Justiça — poderá causar o “embaçamento da livre, legítima e autêntica expressão da vontade do eleitor”.
“Não interessa ao sistema político-partidário que o debate seja feito de modo a presumir a culpa e não a inocência”, afirmou o advogado Marco Aurélio Carvalho.
TV Justiça
Integrante de um grupo de estudos universitário que acompanha e monitora as decisões do STF, o professor Marcelo Figueiredo afirmou ao Última Instância que há um certo consenso no meio acadêmico de que existe o risco do julgamento afetar as eleições municipais.
Figueiredo, que não é ligado a nenhum partido político, teme ainda que as imagens produzidas pela TV Justiça possam ser usadas explicitamente nas campanhas eleitorais. “Em princípio, todas as imagens geradas são públicas”, afirma o professor. No entanto, ele ressalva que há um vácuo jurídico sobre a questão do uso eleitoral do material que é produzido pela televisão pública.
A petição também demonstra preocupação sobre o uso que será feito do caso na propaganda eleitoral veiculada na televisão. O fato, embora seja, nas origens, um julgamento criminal, poderá “facilmente se transformar num espetáculo político de execração pública”, projetam os advogados, que afirmam que não há risco de prescrição dos crimes.
12 de dezembro
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