O último dia 20 registrou o início do outono. Por ser estação de trânsito entre climas marcados, de sol e calor para frio e nebulosidade, este período é caracterizado como um momento de transitoriedade não só pelo alcance anual do equinócio, mas também como época de mudanças de humor e de disposição física das pessoas.
Segundo um professor de filosofia que ouvi no rádio, o outono produz postura mais introspectiva nos seres humanos e, dentro das respectivas possibilidades, também na natureza. A saída do calor intenso, a ausência de dias muito ensolarados, a preparação para um clima mais frio fazem com que cada um de nós sinta-se mais retraído, o mesmo ocorrendo com a vida natural.
A percepção mais imediata e que aponta para a presença desse período é a queda das folhas, fenômeno que permitiu a produção de poemas e músicas, algumas de elevado teor estético, em que se denota a figuração da imagem relacionando-a a sentimentos e sensações de retraimento.
Na sociedade moderna, o homem conta seu tempo apenas com auxílio da passagem das horas. O referido professor de filosofia lembrou que nem sempre foi assim e em tempos idos, em que havia maior sintonia da humanidade com a natureza, o tempo era não apenas cronometrado, mas sentido em conjunto com o caminhar das estações.
Tal fato permitia que o humano se integrasse ao natural, sendo ele mesmo parte deste, sintonizado, agregado, incluído, unido à natureza. Não havia necessidade de preocupações ambientais ou ecológicas, pois o homem era, ele mesmo, um dos elementos do ambiente, inserido no ecossistema.
A tecnologia, oriunda do desejo de dominar a natureza, divorciou o humano de seu sistema natural de habitat. O mundo tornou-se um outro para o ser humano, um objeto a ser explorado e controlado. A vida passou a ser mecanismo submetido a controle. Da existência seguiu-se para a persistência. Do viver caminhou-se para o presenciar. E somente se está presente por meio do consumo. Logo, viver se resume a consumir.
O outono provoca essas reflexões e, como as folhas que caem, os pensamentos decaem ao espírito de forma provocadora.
Todavia, mesmo este período outonal, de retrospeção e concentração, em face talvez do efeito sobre os humores, pode produzir falas sem o mínimo sentido.
Falas como a do Ministro Joaquim Barbosa, possivelmente alterado em seu ânimo por essas mudanças do equinócio, que afirmou ser execrável o que classificou de “conluio” entre advogados e juízes, vale dizer, o fato dos advogados procurarem os juízes para despachar pedidos de elevada importância e que exigem imediata decisão.
Aquilo que deveria ser apontado como uma das formas da atividade do advogado, principalmente o combatente que luta pela defesa dos direitos de seu constituído, foi observado pelo eminente ministro como um gesto de índole corruptora e abominável.
Obviamente as entidades dos advogados, capitaneadas pela OAB, nossa máxima representante, manifestaram seu repúdio às palavras insensatas do nobre ministro.
Receber advogados é uma obrigação dos magistrados, até porque a sociedade tecnológica afeta também o modelo de aplicação do direito tornando-o burocrático e despersonalizado, o que é combatido pela tal postura dos advogados que, fazendo-se presentes, humanizam a Justiça.
O início do outono não ajudou a reflexão do eminente ministro, mas os advogados, ao pé de seus ouvidos e falando diretamente com ele em seu gabinete, vão permitir que as palavras dele sejam sopesadas de melhor forma. E, certamente então, o cair das folhas acompanhará o elevar de seu pensamento.
18 de dezembro
18 de dezembro
18 de dezembro
18 de dezembro