Vamos ver se estou mesmo entendendo o que está acontecendo no processo eleitoral brasileiro, conforme as análises dos “especialistas” em política: Lula já está reeleito, vencendo no primeiro turno. Ele conseguiu a proeza de flutuar sobre a lama de seu Governo tal qual uma flor do lácio e, assim, blindar-se contra denúncias disparadas incessantemente pelas oposições.
Assim que esse exercício futurológico se materializar, após a apuração e confirmação dos resultados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os eleitores vão descobrir outra novidade: o partido do presidente da República, o PT, conseguiu eleger dois Governos estaduais: Piauí e Sergipe (Estados considerados mais do que periféricos).
As demais 25 unidades estarão sendo governadas pelo PMDB, PSDB e PFL e, residualmente, partidos inexpressivos como PSB e PPS.
Na contabilidade geral da representação Congressual, os eleitores descobrirão mais coisas interessantes: PMDB, PSDB e PFL dominarão majoritariamente a Câmara dos Deputados. No Senado, a situação será mais complicada: mais de 70% das cadeiras serão das oposições.
Tudo isso, lógico, se as pesquisas de intenções de votos se confirmarem. Noutras palavras, o presidente Lula, caso queira governar com certa tranquilidade, terá que formar maioria congressual, atraindo o partido mais permeável à idéia de coalizão: a parte do chamado PMDB governista.
Mas isso terá um preço, conforme José Sarney e Renan Calheiros têm declarado nos bastidores: ministérios e cargos aos borbotões. Tudo de “porteira fechada”, como se costuma dizer.
Isso significa que o PMDB pretende ter uma fatia considerável do orçamento e, consequentemente, do poder. Tudo indica que terá tudo o que pedir e mais um pouco, e o futuro presidente se verá obrigado a reduzir o PT a quase nada dentro da máquina pública.
Os petistas, a partir daí, se verão na contingência de disputar o tão decantado aparelhamento com outras forças políticas, num amplo espectro de loteamento do Estado. Vai ser complicado, mas isso é o Brasil.
A surpresa importante desse processo é que, depois dos votos contados e comemorada a vitória, muitos daqueles que votaram alegremente em Lula vão descobrir que, na verdade, elegeram o PMDB, mais notadamente os setores mais “pragmáticos” do partido, com Jader Barbalho e Newton Cardoso na ala da frente.
A título de ilação, só pra ficar no exemplo local, caso o próximo governador do Estado seja André Puccinelli (as pesquisas estão, por enquanto, a indicar que isso é provável que aconteça, salvo um fato novo) é inegável que ele se sentirá mais à vontade com Lula do que com Alckmin, FHC e Serra, caso prevaleça o atual quadro.
A relação entre Puccinelli e Renan Calheiros (ficando, insisto, no exemplo local) é estreita e muito antiga e, certamente, vai se tornar muito mais próxima num eventual Governo Lula, isso para ficar apenas em generalidades e para facilitar o entendimento do eleitor.
No mundo real da política nacional – considerando o atual modelo presidencialista brasileiro –, onde os partidos são frágeis e descartáveis, e as personas sobrepõem-se a idéias, programas e projetos, o País corre mais uma vez o risco de depreciar o processo democrático elegendo apressadamente o novo mandatário, sem o pejo do esclarecimento, que no fundo será uma cabeça sem os devidos membros. Ou vice-versa
Resumindo a opereta, tem tudo para dar errado. E se der certo, devemos levantar as mãos para os céus, pois será um verdadeiro milagre.
Dante Filho, jornalista em MS
15 de dezembro
15 de dezembro
15 de dezembro
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