Nos primeiros dias de abril de 1964, o então deputado mineiro Aníbal Teixeira tinha duas grandes tarefas: dar garantias ao Congresso Nacional e tentar convencer seu mentor político, Juscelino Kubitschek, a exigir da “revolução” o compromisso de fazer eleições no ano seguinte. Cumpriu apenas uma delas, pois JK já havia batido o martelo, aceitando o comando militar de Castelo Branco.
Conforme relata Aníbal, em entrevista exclusiva ao Última Instância, o ex-presidente Juscelino Kubitschek sabia de tudo. Sabia que civis e militares conspiravam em Minas Gerais. Sabia que a intenção era depor o presidente João Goulart. JK — que havia ele próprio quase sido impedido de tomar posse anos antes — era informado constantemente pelos conspiradores e sabia muito bem que a ordem constitucional seria posta de lado. Fez apenas uma ressalva: “É fundamental que tenha um mínimo de legalidade, e isso tem que ser com garantias ao Congresso”, teria dito JK a Aníbal, dez dias antes do golpe.
Com essa incumbência, de zelar pela integridade do Congresso Nacional, Aníbal Teixeira foi a Brasília. Para tanto, recebeu inclusive documentos especiais expedidos pelos comandantes militares do golpe assegurando o seu “livre-trânsito” pelo país.
Os militares e civis mineiros que articularam a conspiração golpista acreditavam que “candangos armados da esquerda” poderiam invadir o Legislativo em defesa de Jango e de suas Reformas de Base. Quando chegou à Praça dos Três Poderes, Aníbal viu que não passava de balela — o próprio presidente do Congresso, Auro de Moura Andrade, declararia vacante a Presidência da República à revelia de Jango.
O golpe que instalou o regime que duraria até 1985 já estava configurado. O Congresso estava em “segurança”. Tanto que JK foi pessoalmente receber as tropas mineiras que ocuparam a capital — para, também, facilitar o reconhecimento internacional do novo governo — e “deram garantias” ao Legislativo, conforme mostra a fotografia abaixo:
Atualmente, Aníbal Teixeira preside o Instituto JK, mas sua atuação na política mineira é extensa. No governo Juscelino (1956-1961), foi diretor do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do Instituto Nacional de Imigração e Colonização. Deputado eleito quatro vezes, foi também Secretário de Estado no governo mineiro de Magalhães Pinto (1961-1966) e ministro do Planejamento no governo José Sarney (1985-1990). Após o AI-5, teve seu mandato cassado. Uma vez anistiado, trabalhou junto a Tancredo Neves na redemocratização.
Em 2013, lançou o livro Flautista do rei, no qual, “sem temer as patrulhas, conta e documenta os bastidores da Revolução de 1964”. Na obra autobiográfica, Aníbal Teixeira também relata suas experiências nos governos Magalhães Pinto, JK, Sarney e o trabalho com Tancredo Neves na redemocratização.
JUSCELINO SABIA DO GOLPE
Em mais de uma ocasião, JK foi informado pelos conspiradores de que havia um movimento em curso para depor João Goulart. A anuência do ex-presidente manifestou-se também por ele ter deliberadamente escondido de Jango que tramavam pelas suas costas. Aníbal Teixeira também faz referências aos conselhos de Plínio Salgado, que queria evitar a todo custo que um militar assumisse o poder do Brasil. Na época, Plínio era deputado federal pelo PRP (Partido de Representação Popular), legenda que representava o pensamento integralista, do qual era o principal idealizador e também do qual fazia parte Aníbal Teixeira nos anos que antecederam o golpe.
12 de dezembro
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