O depoimento mais aguardado do julgamento do 2º bloco do Massacre do Carandiru ocorreu nesta quinta-feira (1.º/8), em que o tenente-coronel Salvador Modesto Madia admitiu ter ido até a Casa de Detenção de São Paulo com uma equipe de cinco PMs por iniciativa própria. O oficial chefiou a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) durante novembro de 2011 até meados do 2º semestre de 2012.
“Depois de 92 tudo mudou, só não mudou uma coisa: o sistema penitenciário continua um lixo”, afirmou o tenente-coronel.
Durante a oitiva, o oficial afirmou que as outras equipes da Rota que estavam sob sua responsabilidade ficaram no batalhão aguardando determinações do comando da operação.
Segundo o tenente-coronel, ao chegar no Carandiru, foi ao gabinete da direção do estabelecimento penal e, após presenciar as conversas entre as autoridades militares e civis, perguntou ao coronel Ubiratan Guimarães o que fazer com a tropa de Rota que à época ele comandava. “Ele me respondeu: a [tropa de] Rota noturna fica na base, você [Madia] integra a equipe do capitão [Válter Alves] Mendonça (que depôs na quarta-feira)”, relatou o oficial.
O oficial também foi o único dos oficiais denunciados neste bloco do julgamento que, ao responder as perguntas do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), confirmou ter visto detentos nus deixando o 3º pavimento do pavilhão 9 após ação da Rota naquele andar. “Estou aqui e assumo os meus atos como sempre assumi em 31 anos de polícia”, disse Madia aos promotores.
Madia também afirmou que cada réu teria uma visão diferente do acontecimento no 3º pavimento do pavilhão 9. “Se pegar os 23 interrogatórios daqui, [eles] serão diferentes por causa da visão de túnel”, ao explicar que cada PMs estava focados em tarefas diferentes durante o episódio. Dos 25 réus, apenas cinco responderam as perguntas feitas pelo MP-SP e pela defesa.
Segundo Madia, a invasão do pavilhão 9 da Casa de Detenção da Capital neste momento já estava determinada por parte das autoridade. “Mas a entrada da Rota não. Só entraria se houvesse reação dos presos”, afirmou o tenente-coronel.
Relação MP-SP e Rota
Durante o interrogatório a advogada Ieda Ribeiro de Souza perguntou para o tenente-coronel Madia sobre a época em que ele assumiu o comando da Rota em São Paulo, entre novembro de 2011 e setembro de 2012. Durante essa parte do interrogatório o ex-comandante da tropa de elite afirmou que era de conhecimento do MP-SP as ações truculentas da Rota noticiadas pela mídia em 2012. “Houve o aumento de índice de letalidade da Rota e os dois grupos [do MP] com quem atuávamos [Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) e Gesep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial)] preferiam não aparecer”, afirmou o oficial.
Entenda o caso
Em 2 de outubro de 1992, 330 policiais entraram no pavilhão 9 da Casa de Detenção da Capital, o Carandiru, para conter uma rebelião. O resultado da ação da PM-SP (Polícia Militar de São Paulo) foi a morte de 111 presos. O caso demorou 20 anos para ir a julgamento.
O Massacre do Carandiru é o maior processo da história do judiciário paulista, o segundo maior do país – ficando atrás apenas do massacre de Eldorado de Carajás – e um dos mais imbricados quebra-cabeças da Justiça brasileira. A classificação de massacre para a ação da PM na unidade foi dada pela OEA (Organização de Estados Americanos) no ano 2000.
O juiz José Augusto de Nardy Marzagão, magistrado responsável anteriormente pelo caso, separou o processo em quatro blocos de julgamento, divididos pelas ações policiais ocorridas em cada um dos quatro andares do Pavilhão 9.
O 1º bloco foi julgado em abril deste ano. Após uma semana o Conselho de Sentença da Vara do Júri de Santana condenou 23 dos 26 réus denunciados pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo).
12 de dezembro
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