Conferência debate direitos humanos das mulheres indígenas

Na noite de segunda-feira (20) e durante todo o dia de hoje (21), está sendo realizada a Conferência Ancestralidade: Mulheres e Sábios Indígenas. O evento reúne, no plenário criminal do TJMS, representantes indígenas de diferentes etnias para discutir os direitos humanos das mulheres indígenas, além das cosmovisões dos anciãos indígenas, despertando o interesse de todos para a manutenção da cultura dos povos indígenas.

Realizada pelo Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena (ITC), com a parceria da Embaixada do Canadá e apoio do Tribunal de Justiça, a conferência pretende retomar o debate acerca da construção necessária para a melhoria de condições de vida dos indígenas em MS.

Segundo dados do ITC, Mato Grosso do Sul apresenta o 2º maior número quantitativo de população indígena no Brasil. Os dados mostram que o momento de interação e diálogo é de suma importância no processo histórico de luta e resistência dos povos indígenas.

Os participantes pretendem compreender como agem as mulheres indígenas nas desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais com o reconhecimento de sua vivência, à educação, bens de consumo, mediante sua inserção no mercado de trabalho e a efetivação dos direitos humanos da mulher.

O destaque da noite de abertura do evento ficou para a importância dos anciãos para a sobrevivência da sociedade indígena, por meio da transmissão oral dos saberes indígenas como cultura, rituais, mitologia, cura pelas ervas, entre outros.

Na fala das lideranças indígenas ficou claro que a transmissão dos saberes é essencial para a sobrevivência das diferentes etnias não só no país, mas no mundo, o que torna os anciãos valorosos para o resgate cultural das tradições abandonadas e/ou perdidas a partir do contato dos indígenas com áreas urbanas, pois os anciãos representam a história e a cultura indígenas.

O que todos desejam, como externado no evento, é a construção de um novo sistema para os povos indígenas, pautado pelos próprios indígenas, garantindo a manutenção de seus direitos, além da equidade de oportunidades e preservação da cultura.

O coordenador e articulador internacional dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, Marcos Terena, lembrou dos 10 anos da Declaração Universal dos Direitos Indígenas e dos 40 anos da criação do Estado de Mato Grosso do Sul, considerou a data da conferência histórica e garantiu que a intenção é mostrar que os povos indígenas não têm apenas a Funai como foco.

“É hora de ampliar as alianças e construir novos diálogos. Queremos mostrar o que é o índio na modernidade. O que vocês estão vendo aqui eu já disse na ONU em 1992: caminhar em direção do futuro nos rastros dos nossos antepassados. Aqui temos índios que são agrônomos, poetas, líderes em suas comunidades, pastores, missionários. O índio é a única sociedade do mundo que não é ateu. Podemos não ter religião, mas acreditamos na força do grande criador”.

O embaixador do Canadá no Brasil, Ricardo Savone, confessou estar honrado em fazer parte de um evento que discute temas tão importantes. Ele trabalha com indígenas desde que chegou ao Brasil e afirmou aprender muito sobre os desafios que enfrentam e com a força que imprimem para promover suas causas.

“Tenho muito orgulho do Canadá ser o anfitrião da 2ª edição dos jogos internacionais indígenas este ano. Em todas as interações com representantes indígenas notei o profissionalismo, a organização e a eficácia da sociedade civil indígena do Brasil. No Canadá tivemos um passado conturbado nas relações entre o governo e os povos indígenas. Ainda temos um caminho longo caminho a percorrer”, disse.

Segundo Savone, um dos temas políticos mais importantes no Canadá atualmente é a reconciliação com as primeiras nações, como os povos indígenas se chamam lá. É tão importante que, neste ano em que se comemora o 150º aniversário do país, o governo anunciou que a reconciliação com os povos indígenas será um dos quatro temas prioritários ao longo de 2017.

“As primeiras nações do Canadá sofrem com a taxa de pobreza, serviços públicos inadequados, bem como de criminalidade e violência. Nos últimos anos, o Canadá tem visto o surgimento de  movimentos ativistas exigindo mais ação para apoiar as primeiras nações. Na última década, o Canadá pediu desculpas formais aos povos indígenas. O governo canadense criará uma Comissão da Verdade sobre o tratamento dado aos povos indígenas”.

Representando os anciãos estavam Miguelina da Silva e Flausino Terena, conhecido como Turu, além do secretário estadual de Cultura Athayde Nery de Freitas, representando o Governador de MS, a subsecretária de Políticas Públicas para População Indígena Silvana Albuquerque; o diretor-executivo da Fundação Ueze Zahran, César Quintas Guimarães; o presidente da Fertel, Bosco Martins, a subsecretária Municipal de Políticas para a Mulher, Carla Stephanini, representando o prefeito Marcos Trad, além de outras autoridades.

 

 

 

Fonte: www.tjms.jus.br


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